quinta-feira, 7 de julho de 2011



07 de julho de 2011 | N° 16752
LETICIA WIERZCHOWSKI


Tchau chupeta

Meu filho de três anos não consegue largar a chupeta. Chupeta não, didi. Aqui em casa, a chupeta é chamada carinhosamente de didi. Já era didi quando eu era pequena, andando pela casa da minha infância com o Miti, meu amigo imaginário, imaginariamente seguindo-me por todos os lados. E a chupeta continuou sendo didi para a irmã que veio depois de mim, e ainda para a outra, que veio mais tarde.

Quando meu primogênito nasceu, houve um hiato nessa tradição familiar, pois ele não tinha absolutamente nenhum apego pelas chupetas. Abandonou-as, uma depois da outra, sem o uso afetuoso de uma única sílaba, e deixou cabalmente de usar a sua esporádica chupeta antes de pronunciar as primeiras palavras.

A próxima criança da família, minha afilhada Mariana, gostava da sua chupeta, mas tinha uma criteriosa etiqueta para denominá-la: em casa, era o didi, esse termo afetuoso transmitido pela sua mãe; na escola, elegantemente, ela chamava o didi de bibi, tal como os outros colegas, aludindo ao modo como conhecemos a chupeta aqui no sul: bico. Como todas as mocinhas, Mariana sempre foi escrupulosa com as regras sociais.

Agora estou às voltas com o meu caçula e o seu didi. Eles tem uma relação doida, o Tobias parece mais um sultão com o seu harém: a caixinha cheia de didis que ele espalha escrupulosamente por onde quer que vá – nos bolsos dos casacos, sob o travesseiro, sobre o encosto do sofá, na cadeirinha do carro, na mochila da escola. Chupar o didi deve ser muito bom, porque o garoto não esquece dele nunca, e eu passo cotidianamente barganhando uma trégua de 15, de 30 minutos, de uma hora sem o didi por perto.

Assim, que alívio que foi trazer aqui pra casa o DVD do Pequeno Cidadão, um trabalho do Arnaldo Antunes, do Edgard Scandurra, do Antonio Pinto e da Ticiana Barros, com vocais dos seus rebentos (Tomé, Brás, Manu, Dani, Juca, Joca, Estelinha, Lucas e Luzia).

Entre tantas faixas geniais, Tchau Chupeta tem rolado muito, com um gracioso efeito sobre o Tobias, que deixa de lado o seu didi, prometendo que vai “jogá-lo no mar”. Efeito momentâneo, é claro...

Mas ontem, andando pela casa, ele cantava alegremente: “Já pensou um peixe chupando chupeta? Aquela que eu joguei nem ele vai querer... A baleia prefere tocar a trombeta, do que ficar com medo de crescer...”.“Vai lá, Tobias”, pensei eu, cresce sem medo, meu filho. E lhe disse: “Vamos jogar essa chupeta no mar também?”. Ele riu e respondeu: “Mas isso aqui não é uma chupeta, mamãe. É o didi!” Então tá.

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