Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 2 de julho de 2011
03 de julho de 2011 | N° 16748
VERISSIMO
Plágio ou o quê?
Bach tinha o que um crítico chamou na época de um certo quê italianado
Gosto muito do concerto em ré menor para oboé, cordas e baixo contínuo do Alessandro Marcello, um dos menos conhecidos compositores do barroco veneziano, no qual Vivaldi e Albinoni eram o Neymar e o Ganso.
Quem também gostava muito do Marcello era o João Sebastião Bach, que chegou a transcrever seu concerto para o cravo, mudando só o instrumento porque o resto ficou rigorosamente igual. Imagino que, como eu, o João apreciasse principalmente o adágio, um dos mais bonitos de toda a história da música.
Apesar de ser a personificação do rigorismo germânico, ou da emoção circunspecta do barroco alemão, Bach tinha o que um critico da época chamou de um certo quê italianado. E não existe nada mais arrebatadamente italiano, com toda a sua melancolia, do que o adágio do concerto em ré menor para oboé do Alessandro Marcello. Apropriar-se da obra de Marcello foi a maneira que Bach encontrou de ser italiano ao extremo sem precisar ser italiano.
O que o Bach fez foi plágio, homenagem ou empréstimo? Discutiu-se o mesmo a respeito da influência de Montaigne em Shakespeare. Algumas das ideias do francês seriam detectáveis em Hamlet e Rei Lear, procurando bem.
Mas um texto de Montaigne sobre os índios Tupinambás, contrastando sua cultura superior com a suposta civilização europeia e comparando-a à república idealizada de Platão, é repetido quase que palavra por palavra pelo personagem Gonzalo, em A Tempestade.
John Florio, o tradutor de Montaigne na Inglaterra, era amigo de Shakespeare e deve tê-lo introduzido às teorias sobre o Novo Mundo e seus habitantes defendidas pelo ensaísta. Embora não seja exatamente uma parábola sobre o colonialismo, A Tempestade trata da natureza dos selvagens e da sua relação com os conquistadores brancos, um assunto que ocupava a imaginação europeia na época. Shakespeare plagiou, homenageou ou só aproveitou que o que queria dizer já estava escrito?
No seu livro de 2009 Crônicas do Inesperado, o diplomata aposentado Renato Prado Guimarães dedica uma das ótimas crônicas à origem do hino nacional brasileiro, o nosso querido Ouvirando.
O autor da música do hino, Francisco Manuel da Silva, teria se inspirado numa melodia do seu professor, o padre José Nunes Garcia, incluída no seu “Método de pianoforte”. Nunes Garcia usava temas de compositores como Haydn, Mozart e Rossini nas suas lições e a melodia que inspirara Francisco Manuel da Silva fora por sua vez inspirada na abertura da ópera O Barbeiro de Sevilha, de Rossini.
Guimarães conta que certa vez, num sarau musical em Frankfurt, onde estava servindo, prometeu um CD da orquestra sinfônica de São Paulo a quem identificasse uma semelhança entre o hino brasileiro e alguma peça do repertório operístico. Dois convidados levantaram a mão instantânea e simultaneamente e gritaram O Barbeiro de Sevilha!. Eram os cônsules gerais da Itália e da Espanha. Aparentemente, só nós não tínhamos nos dado conta.
No caso do hino, foi plágio, homenagem ou influência perfeitamente legítima? De qualquer maneira, foi em segunda mão.
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