sábado, 4 de dezembro de 2010



04 de dezembro de 2010 | N° 16539
A CENA MÉDICA | MOACYR SCLIAR


O câncer como marcador social

Os recentes números do Instituto Nacional de Câncer (Inca) são significativos. No ranking das mortes por neoplasia em mulheres brasileiras, o câncer de colo do útero está em quarto lugar; mas na Região Norte lidera essa triste tabela. Lá, o risco de uma mulher morrer por causa de câncer de colo do útero é duas vezes e meia maior do que na Região Sudeste.

Nisso não somos exceção. Segundo a Sociedade Brasileira de Cancerologia, essa é a regra nas regiões subdesenvolvidas. Tudo indica, portanto, que exista uma associação entre essa neoplasia e a situação socioeconômica. De que maneira isso ocorre?

A primeira coisa a dizer é que o câncer de colo de útero é uma doença curável e de detecção relativamente fácil, por meio do exame de papanicolaou.

O problema, no caso do norte do país, é chegar aos lugares em que se faz o exame; as distâncias são enormes, a população, dispersa, os meios de transporte, precários, tudo dificultando o cumprimento da recomendação do Ministério da Saúde para que mulheres de 25 a 59 anos façam o exame a cada três anos, após dois exames consecutivos de resultados normais feitos com intervalo de um ano.

De outra parte, temos os fatores de risco, que incluem a pobreza, o início precoce da atividade sexual, a multiplicidade de parceiros sexuais, o tabagismo (que está diminuindo nas classes mais ricas e educadas), a higiene íntima inadequada, o precário diagnóstico e tratamento das infecções ginecológicas: assim, segundo o Inca, o vírus do papiloma humano (HPV) está presente em mais de 90% dos casos de câncer do colo do útero.

Para o câncer de mama, também existem fatores de risco ligados à condição social e cultural: a obesidade, o consumo exagerado de alimentos gordurosos, o uso excessivo de álcool.

Ou seja: num caso a pobreza, no outro um equivocado estilo de vida. Nos dois casos, a doença é o resultado. E, nos dois casos, a doença pode ser evitada. O que mostrará, de maneira inequívoca, a real melhora do país.

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