sexta-feira, 3 de dezembro de 2010



03 de dezembro de 2010 | N° 16538
DAVID COIMBRA


Por que o trintão não sai da casa dos pais

Ainda esta semana, eu participava de um debate e, em meio a verbos e advérbios, uma bela morena de pele clara e cabelo escuro entesou o indicador, dobrou uma ruga de expressão na testa e deitou falação a respeito da família. Sobre como a família oprime o jovem. Sobre como o jovem precisa lutar para poder fazer o que quer, não o que a família espera dele.

Fiquei encantado.

Há muito tempo não encontrava alguém revoltado contra a família. Nestes dias do terceiro milênio, o mais comum é ver pessoas revoltadas porque NÃO TÊM família.

A morena parecia saída de um bar pouco iluminado dos anos 70 ou 80, algum desvão incrustado nas artérias do Bom Fim, quem sabe até o velho Mazza, em frente à PUC. Naquela época, o casamento estava morto e a família jazia em estado terminal. Hoje, as pessoas noivam. Noivam! Trocam alianças e tudo mais. Meninas de 20 anos de idade usam “anel de compromisso”.

A História se move em círculos. É a dialética de Hegel. São os avanços e recuos periódicos da sociedade.

Os cientistas sociais acreditam que essas mudanças têm causas econômicas. Por exemplo: os filhos trintões ou até quarentões que continuam morando com os pais. Segundo os cientistas, esses barbados não saem de casa porque é muito dispendioso viver sozinho.

Bobagem. Os filhos continuam vivendo na casa dos pais por causa do sexo. Sexo!

Antes, o filho ou a filha não podiam fazer sexo na casa dos pais. Tinham de “se libertar” para poder sair à hora que bem entendessem, beber Brahma com Trigo Velho, engolesmar-se até a última curva da madrugada, terminar a noite tomando sopa no Van Gogh e, sobretudo, para partilhar a cama com alguém.

Hoje, tudo é permitido debaixo do teto do lar paterno. Então, para que se dar ao trabalho de mudar de endereço?

Assim funcionava a revolta contra a família. Revoltava-se porque HAVIA família, e a família atuava: cobrava, fiscalizava, censurava, impunha normas de conduta. Reprimia. Como não há mais repressão, não existe mais revolta. O que existe é, precisamente, o contrário: existe uma demanda pela repressão. “Limites”, é o que gritam todos. As crianças precisam ter limites.

E como as relações familiares, em menor âmbito, reproduzem as relações sociais, existe demanda por limites dentro de casa tanto quanto fora dela, na cidade e no país. Não faz muito, no tempo em que o casamento havia sido sepultado, a polícia era vilipendiada.

O PM era chamado de Pé de Porco, o soldado de Abacate do Governo. A sociedade temia os chamados “órgãos de repressão”. Agora, a sociedade clama por eles. Aplaude-os. Eles são os novos heróis do Brasil. Antes pichava-se “Abaixo a repressão”. Agora implora-se por ela.

O mundo muda sempre. E fica sempre igual.

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