Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
01 de dezembro de 2010 | N° 16536
DAVID COIMBRA
Como seria bom ser americano
Averdade é que todos queríamos ser americanos. Calças jeans, tênis, camiseta, chicletes, rock and roll, cachorro-quente, carros velozes, shoppings centers, consumo, consumo, todos gostaríamos de ter nascido no Grande Irmão do Norte. Mesmo você, que jura abominar os ianques, você gosta de jazz, você vai a Nova York, mas apregoa que Nova York não são os Estados Unidos. Ao contrário, beibe: Nova York é o resumo dos Estados Unidos.
Os americanos se tornaram a Nova Roma, sim, mas não pela força dos seus mariners ou do poder verdejante do seu dólar.
Os americanos conquistaram a alma do mundo com o cinema.
Jamais uma forma de arte angariou tamanho poder como o cinema produzido nos Estados Unidos. A literatura, que teve o seu auge no século 19, a literatura mudou o mundo. Mas nunca com a velocidade e a amplidão do cinema. O cinema americano mudou o comportamento até de quem não vai ao cinema. Até do esnobe francófilo ou germanófilo. Até do lúmpen.
E agora, pela primeira vez, surge um filme brasileiro que emociona o país, se infiltra no consciente coletivo e provoca uma mudança palpável de comportamento. Tropa de Elite, em suas duas partes, mudou uma parte do Brasil.
Antes de Tropa de Elite, a polícia era desprezada pelos brasileiros. Agora, a polícia integra as forças do “bem” que lutam contra o “mal”. A polícia passou a defender o cidadão; antes o amedrontava. Os policiais tornaram-se heróis; antes eram pobres-diabos.
Tropa de Elite cumpriu o seu papel como obra de arte: fez com que os homens se emocionassem, com que refletissem e com que, enfim, mudassem.
Uma obra de arte, por meios estéticos, é capaz disso.
Nenhum esporte é capaz disso. Nenhum jogo é capaz disso, e aí me refiro ao futebol, que não é esporte, é jogo, como o turfe, como o basquete, como a canastra, como o par ou ímpar.
Futebol, pois, não é arte: é jogo, quase, quase é esporte.
Jogador não é artista: é jogador; às vezes, atleta.
Logo, ao jogador não cabem certas prerrogativas de artista. Há um limite para a excentricidade do jogador – o limite do profissionalismo. Alguns jogadores não conhecem essa fronteira. Acham-se artistas. Não são. Nada mais distante da arte do que um relapso jogador de futebol.
Truman e as estrelas
Truman Capote é um dos grandes textos da literatura e do jornalismo de todos os tempos. Seu livro mais aclamado é “A Sangue Frio”, mas o melhor, o de texto mais requintado e mais bem-amanhado, é “Bonequinha de Luxo”, um romance fininho assim, mas precioso, um diamante com vírgulas.
Um dia Capote cunhou o lema de quem quer escrever bem. Ele disse que buscava a frase que fosse “resistente e flexível como uma rede de pescar”.
Gostaria que todas as frases de todos os meus textos tivessem esse predicado.
Agora há pouco foi lançado um novo livro de Capote. Quer dizer, o lançamento é novo; o conteúdo, antigo – Capote morreu em 84. Esse livro, “Ensaios”, reúne seus textos de não-ficção. Em alguns ele descreve personagens do meio artístico norte-americano. Capote conheceu muita gente famosa. Num encontro com Marilyn Monroe, os dois propõem-se a trocar segredos. Marilyn confessa estar apaixonada pelo escritor Arthur Miller, Capote revela ter passado uma noite de loucuras com o ator Errol Flynn, conhecido por se relacionar com mulheres e homens, sem preconceito, tendo desenvolvido um caso célebre com seu colega Tyrone Power.
Capote também se encontra com outras das maiores atrizes de seu tempo, Elizabeth Taylor e Judy Garland. Divisou uma característica que unia essas duas a Marilyn:
“Havia uma tendência comum entre as três, Taylor, Monroe e Garland – eu conheci bem as últimas duas e, sim, havia alguma coisa. Um extremismo emocional, uma necessidade perigosamente maior de ser amada do que de amar, a propensão intempestiva de um jogador incompetente de apostar dinheiro bom contra dinheiro ruim”.
Capote identificou nas três estrelas uma das energias fundamentais que transformam uma pessoa comum em artista: a aura da tragédia. Não por acaso, Marilyn se suicidou, Judy, suspeita-se, também, e Taylor, bem, essa sobreviveu com seus olhos lilases.
Mas as três sofriam como só uma mulher à procura de sua alma sabe sofrer. Alguém que sente as dores do mundo está a caminho de se tornar um artista.
Alguém que não consegue compreender nem os dramas comezinhos do torcedor de futebol, esse não passa de um acumulador de dinheiro. Nada mais rasteiro do que um acumulador de dinheiro.
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