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sexta-feira, 5 de março de 2010
05 de março de 2010 | N° 16265
PAULO SANT’ANA
Ciúme do sucesso
Bateu uma ciumeira danada sobre o êxito da Polícia Civil no esclarecimento do crime que vitimou o secretário Eliseu Santos.
De toda parte, surgem mensagens de leitores que se afirmam vítimas de assaltos e não tiveram seus casos esclarecidos.
“Como é, então, que a polícia resolveu este caso com rapidez extraordinária e não resolveu o meu caso, em que me assaltaram à mão armada e até agora não se sabe quem meu roubou?”, perguntam de toda parte os assaltados.
As pessoas creem firmemente que foi a importância social e política da vítima que levou a polícia a apressar as investigações e apresentar os resultados.
Mas eu pergunto: como é então que no caso do assassinato do médico Marco Antônio Becker, ex-presidente do Cremers, a polícia demorou tanto para apresentar suas conclusões, mais de um ano?
Nesse caso, a vítima não tinha importância social? Tinha, a mesma do secretário Eliseu Santos. E como é que a polícia demorou tanto?
Acho que estão vendo chifres em cabeça de cavalo.
As pessoas teimam em não prestar atenção nos detalhes relevantes. O que levou a polícia a ser tão expedita no esclarecimento deste crime do caso Eliseu foi o encontrado na cena do crime, farta quantidade de sangue, mas o principal fator foi a reação do secretário Eliseu aos assaltantes.
Eu pedi para prestarem atenção num fato, mas não prestaram: o secretário reagiu armado e atirando nos assaltantes. E, por ter acertado dois ou três tiros no principal suspeito, farta quantidade de sangue foi deixada no local do crime. Ou seja, a vítima foi decisiva no esclarecimento do crime.
Lembram que os delegados que estiveram no local do crime declararam que o matador ou matadores de Eliseu Santos deixaram uma abundância de vestígios tão expressiva, que podia ser comparada ao assassino ter deixado impressões digitais no local?
Não foi o caso do assassinato de Marco Antônio Becker, quando nenhum dos assassinos foi ferido e não deixaram nenhum vestígio.
São dois casos tipicamente diferentes.
Por isso é que a polícia demorou tanto para concluir suas investigações no caso Becker e foi tão rápida na conclusão do caso Eliseu.
Outra ilação que muitas pessoas estão tirando, constato isso nos inúmeros e-mails que recebo: “Se Eliseu Santos não tivesse reagido, estaria vivo, são e salvo”.
Não é bem assim: Marco Antônio Becker não reagiu e foi morto.
Sei que um caso foi de execução e o outro, teoricamente, de assalto.
Mas cada caso é diferente do outro.
E, se tantos reclamam que não tiveram os assaltos de que foram vítimas esclarecidos pela polícia, enquanto o caso Eliseu foi solucionado de forma rápida, saibam que, se Eliseu não tivesse reagido, tudo indica que seu caso seria juntado à pilha de assaltos não resolvidos, igualzinho aos casos dos que agora reclamam isso ao colunista e a outros jornalistas.
Uma outra coisa: ainda não está solucionado o caso Eliseu. A polícia, ao que parece, resolveu antecipar-se à prisão dos assaltantes, concedendo entrevista coletiva em que esclareceu as circunstâncias do crime apenas para ter a oportunidade de distribuir à imprensa a foto do principal suspeito, o que facilitaria sua prisão.
Mas me confesso intrigado até agora com um detalhe: Eliseu Gomes, o suspeito de ter morto Eliseu Santos, não tem antecedentes na polícia. É estranho que uma quadrilha experiente em assaltos contra motoristas e roubos de carro tenha mandado para a linha de frente da ação um ladrão estreante e sem nenhuma experiência.
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