Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 2 de março de 2010
02 de março de 2010 | N° 16262
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
O adorno da dama
Uma amiga conta que, tendo levantado de madrugada para tomar um copo d’água, encontrou na porta do quarto uma mulher desconhecida, que a fitava fixamente. Era bem jovem e vestia uma espécie de camisola branca.
A opaca claridade que vinha da rua lhe permitiu notar que tinha feições delicadas, pele muito alva, corpo esguio e portava uma espécie de adorno que lhe pendia sobre o peito. Minha amiga perguntou-lhe quem era e o que fazia ali, mas a única resposta que obteve foi um olhar ainda mais fixo e determinado.
Ergueu então a mão para tocar no adorno, como para certificar-se de que não estava sonhando, mas a mulher simplesmente desapareceu. Acendeu a luz e a única coisa que encontrou foi um suavíssimo perfume, mais intenso no exato lugar onde estivera a visão.
Aí saiu pela casa ligando as outras luzes, já esquecida do copo d’água. Tudo estava na mais perfeita paz. Voltou para o quarto, deitou-se, mas não conseguiu mais adormecer.
O que eu achava disso tudo?
Eu não achava nada. Shakespeare escreveu no Ato I de Hamlet que há no céu e na terra bem mais coisas do que sonhou jamais nossa vã filosofia.
Eu sequer sou filósofo. No máximo não passo de um curioso das coisas do céu e da terra.
Devo confessar por isso mesmo que a estranha história da dama do adorno não foi a única que ouvi. Eu mesmo incluí, no primeiro dos livros que escrevi, uma crônica chamada O Quarto da Escada, que é, da primeira à última linha, todo um testemunho de inteira verdade.
Não pretendo que ninguém acredite nele. Mas ao mesmo tempo me pergunto se o mundo não seria bem mais desgracioso na ausência de causos em torno do sobrenatural.
Até mesmo porque essas narrativas raramente se contêm em si próprias. Foi aliás o que sucedeu com a história com que comecei estas linhas.
Pois ocorrendo que, no dia seguinte ao da aparição, se determinasse a trocar toda a roupa de cama, para afastar cada lembrança do insólito incidente, minha amiga achou sobre o travesseiro vizinho ao seu um visitante inteiramente inesperado.
O adorno da dama que a fitara fixamente e que, como ela, desapareceu em segundos.
Uma gostosa terça-feira. Aproveite o dia
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