segunda-feira, 1 de março de 2010



01 de março de 2010 | N° 16261
PAULO SANT’ANA


A cavalgada da gordura!

Qual o sentido da Cavalgada do Mar? Depois que morreram dois cavalos e 15 adoeceram no primeiro dia da cavalgada, acendeu-se a polêmica.

Fui me socorrer no nosso mais importante tradicionalista. O folclorista Paixão Côrtes não vê propósito nessa cavalgada. Disse mais: que cultuar a tradição não é só cantar, dançar e beber.

As entidades de proteção dos animais protestam.

Pensando bem, parece tanto ridículo quanto cruel submeter os cavalos ao percurso de 240 quilômetros em oito dias. Ainda por cima, cada um com um cavaleiro no dorso. É desumano. Se já o é para o cavaleiro, imagine para o cavalo.

Some-se a isso a época por todos os títulos inadequada, calor sufocante e sol escaldante.

Sob o ponto de vista dos cavalos, há vários inconvenientes que levam à morte e à doença dos animais, mas ressalto dois: grande parte dos cavalos é forçada ao caminho longo com obesidade, animais bem tratados e nunca treinados, mais aumenta a gordura.

Outra questão é que, quanto maior o peso do cavaleiro, maior o esforço que o cavalo terá de fazer. Grande parte dos cavaleiros é de obesos. Se o cavalo não estiver preparado, pode não aguentar o peso de sua montaria, principalmente debaixo de sol forte, como é o caso dessa cavalgada.

E os cavalos que mais sofrem nessa cruzada litorânea são justamente os cavalos mais obesos, o que estão acima do peso ideal. Dizem os veterinários que os cavalos gordos, além de suportar o esforço, são os mais suscetíveis de ataques cardíacos. E a gordura dos animais é encarada como sinal de beleza pelos proprietários. São animais sedentários, montados apenas nos finais de semana e superalimentados.

Ora, para qualquer prova de resistência é necessário, como nas maratonas, um treinamento intenso para os participantes. Esses cavalos não têm treinamento algum e são jogados a essa superdistância sem nenhuma orientação.

Temos, então, gordura dupla: gordura dos cavalos, gordura dos cavaleiros, segundo foi divulgado por Zero Hora.

Devia se intitular de Cavalgada da Gordura.

Só que o cavaleiro gordo monta o cavalo e toca para a praia. Enquanto que cabe ao cavalo o sacrifício extremo de transportar em seu lombo o cavaleiro gordo.

É uma desumanidade. Ou uma desequinidade.

O meu amigo Vilmar Romera, presidente da Fundação Cultural Cavalgada do Mar, saiu-se graciosamente ao explicar a morte dos cavalos: “O animal tem de ser preparado. Esse é um problema do dono do cavalo. É como mulher, se tu não a tratares bem, vais levar guampa”.

Mas o que é isto? Nessa situação, perde o marido traído, mas, na situação da cavalgada, cavalo maltratado é prejuízo só para o cavalo.

Romera diz ainda, como líder, que não tem autoridade para vetar a participação de ninguém na cavalgada e não tem culpa por alguém matar o seu cavalo.

Mas o que é isto, Romera? Esta responsabilidade é exclusiva da organização da cavalgada. Se ela não intervém, ninguém intervém.

Ou melhor, intervêm adequadamente as associações protetoras dos animais, únicas entidades que podem defender os pobres cavalos.

Não resta dúvida, tem de suspender essas cavalgadas, imediatamente. Não sou eu, alienado, que estou dizendo. É o Paixão Côrtes, minha gente!

Tem de acabar para sempre esse irracional exibicionismo para os banhistas.

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