sexta-feira, 6 de novembro de 2009


Jaime Cimenti

O jardim secreto de Eliza, da australiana Kate Morton, nascida em 1976, confirma as qualidades de narradora do primeiro romance, A casa das lembranças perdidas, já publicado no Brasil pela Editora Rocco. Formada em arte dramática e literatura inglesa, Kate vive com o marido e o filho em Brisbane, na Austrália.

O enredo de O jardim secreto de Eliza está centrado em velhos e misteriosos segredos familiares. Em 1913, um navio chega à Austrália direto de Londres, trazendo com ele uma menina de quatro anos, absolutamente sozinha, sem um acompanhante adulto e portando apenas uma mala com um livro de contos de fadas.

O mistério de quem era a bela garota, que dizia não lembrar de seu nome e de como chegou a porto, nunca foi desvendado. Em suas memórias trazia apenas a imagem de uma mulher que ela chamava de a dama ou A autora e que dizia que viria buscá-la.

Muito anos depois, em 2005, na cidade australiana de Brisbane, a doce e reservada Cassandra herda de sua avó Nell uma casa na Inglaterra. Supresa, ela descobre que a casa esconde as origens de sua avó, que foi uma vez a bela menina sem nome perdida no porto.

Enquanto vai sendo narrada a viagem da protagonista para a Inglaterra, vai sendo revelada a trama paralela que se desenrola antes do nascimento da menina, quando Nell vê seu mundo cair depois que seu pai revela, às vésperas de seu noivado, que ela não é sua filha verdadeira. A notícia a transforma numa mulher estranha, colecionadora de objetos antigos e raros e que vive numa casa em uma região afastada da Austrália. Seu exílio autoimposto, no entanto, vai ser quebrado quando sua filha deixa a pequena Cassandra a seus cuidados.

Revoltada com a filha por ter abandonado a menina, assim como aconteceu com ela quando criança, Nell acaba estreitando laços com a neta. Lá pelos anos 70, Nell decide reconstituir o caminho de volta à terra de onde veio: Londres.

Lá descobre muitas coisas do passado, inclusive a lembranças da moça que chamada de A Autora: Eliza Makepeace, uma travessa menina contadora de histórias, que também tinha suas próprias tragédias.

Em seu romance, Kate Morton mostra como pode ser frágil o senso de identidade de uma pessoa que, diante de uma grande revelação, pode mudar radicalmente.

O ambiente da história é a Inglaterra edwardiana e vitoriana do início do século XX, um período de grandes transformações que colocou em xeque a aristocracia. A obra foi inspirada em fatos verídicos da família da autora. Tradução de Lea Viveiros de Castro, 560 páginas, R$ 64,50, Editora Rocco, telefone 21-3525-2000.

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