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sábado, 7 de novembro de 2009
07 de novembro de 2009 | N° 16148
CLÁUDIA LAITANO
A dor dos outros
O francês François de La Rochefoucauld (1613-1680) tem uma máxima bastante ácida a respeito da nossa capacidade de empatia com o sofrimento alheio: “Todos temos a força suficiente para suportar a dor dos outros”.
Alguém poderia acrescentar que “os outros” variam muito de distância: podem ser outras famílias que não as nossas, outras cidades, outras culturas, outras classes sociais.
Quanto mais sou capaz de criar algum tipo de identificação com a vítima de uma tragédia, mais esse sofrimento me diz respeito e me comove. O lamento de 20 segundos televisivos da vítima de um desabamento de terra no Espírito Santo nos toca tão rápida e levemente quanto os 300 mortos de um terremoto no Japão. Suportamos corajosamente a dor que passa longe de nós.
Há basicamente duas formas de nos aproximarmos dos “outros” e de suas dores: com indiferença/repulsa ou com interesse/respeito. O antropólogo Claude Lévi-Strauss, que morreu na semana passada, será sempre lembrado como o sujeito que, contra todas as convicções de sua época, advertiu que era indispensável ouvir o outro e respeitar sua forma de organizar o mundo – por mais pelado, coberto de penas e escondido no meio do mato que ele estivesse.
Por trás de toda diferença cultural, social, geográfica, há algo que nos interessa porque é humano – e tudo que é humano deveria nos dizer respeito. Nada mais distante de nós do que as vítimas da bomba atômica na II Guerra, mas se você ler hoje o livro-reportagem Hiroshima, de John Hersey, vai reconhecer em cada um dos sobreviventes uma pessoa que podia ser um vizinho seu, uma velhinha que podia ser sua avó, uma criança que podia ser seu filho.
Cultura, nacionalidade, classe social ou mesmo a época remota em que alguém viveu viram detalhes secundários quando o que fica em primeiro plano é o que temos em comum e não o que nos diferencia.
No cinema brasileiro, há um mestre na arte da escuta. O documentarista Eduardo Coutinho ouve com generosidade e respeito seus entrevistados – ricos ou pobres, urbanos ou rurais, jovens ou velhos, anônimos ou famosos.
A certa altura do filme Edifício Master (2002), por exemplo, uma viúva conta que, em determinada ocasião, sentindo-se sozinha e desamparada, pensou em se matar. Vestiu calças compridas, subiu no parapeito da janela e quando estava a ponto de pular lembrou, entre outras coisas, de um carnê da C&A que ainda não havia quitado.
A maneira como ela conta essa história, e o significado que esse compromisso banal toma na reflexão de cada espectador transforma esse episódio de “dor dos outros” em algo mais profundo do que a mera exibição do sofrimento alheio.
De certa forma, ela deixa de ser apenas uma velhinha solitária de classe média baixa que mora em um balança-mas-não-cai em Copacabana para se transformar em alguém com sentimentos que nos parecem familiares – e que por isso mesmo nos tocam.
Pois isso é tudo o que o filme Alô, Alô, Terezinha, de Nelson Hoineff, não consegue. Expondo a miséria de ex-calouros e de ex-chacretes, sob o pretexto de recriar o clima irreverente do Cassino do Chacrinha, o diretor nada mais faz do que ressaltar a diferença e a distância entre o espectador bem alimentado e o pobre-coitado na tela – naturalizando o gesto de rir e (fazer rir) da dor dos outros.
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