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quinta-feira, 5 de novembro de 2009
05 de novembro de 2009 | N° 16146
RICARDO SILVESTRIN
A percussão e a repercussão
O ser humano então tem jeito. Essa foi a conclusão a que o entrevistador Roberto D’Ávila chegou na conversa, em seu programa, com José Júnior, coordenador executivo do AfroReggae.
Estive em Passo Fundo, na Jornada Nacional de Literatura, na semana passada. Assisti lá ao show da banda AfroReggae. É música pop executada e cantada com competência. A percussão brasileira, aprendida nas escolas de samba cariocas, tempera os arranjos. O repertório se pauta por canções com mensagens de paz e alegria. Há pequenos textos falados que também apelam para a consciência individual e coletiva na busca de uma vida mais pacífica. Mas quem vê só isso pode não perceber a profundidade e a extensão das ações do grupo.
A entrevista foi dias após o assassinato de Evandro João da Silva, coordenador social da instituição. Evandro era um mediador de conflitos. Foi morto por um morador de rua. Poderia ter sido salvo, mas policiais não lhe prestaram socorro, sob a alegação de que pensaram se tratar de um mendigo caído na calçada. José Júnior teve acesso ao causador da morte do companheiro e viu que estava diante de uma pessoa sem referência. Segundo Júnior, quem é criado na rua está para o que der e vier.
Não tem instrução de família, orientação. Isso não o fez perdoar o ato. Mas o AfroReggae trabalha exatamente com pessoas assim. É formado por gente que já passou por muita coisa difícil, inclusive prisões por delitos.
As oficinas de arte e ações culturais do grupo, realizadas em favelas do Rio de Janeiro, buscam resgatar a cidadania. Trazem uma via alternativa à cooptação do tráfico de drogas e da marginalidade. O interessante é que o projeto foi criado pelos próprios favelados.
Desenvolveram uma tecnologia social que está sendo exportada até para a Inglaterra. José Júnior já recebeu vários prêmios. Um deles foi o de Jovem Líder para o Futuro Mundial, concedido no Fórum de Davos.
Foram contatados pelo governo de Minas Gerais para desenvolver um projeto. Júnior propôs aos colegas que as ações fossem feitas em conjunto com a polícia. Isso porque percebeu que todos tinham um grande preconceito com os policiais, uma vez que já haviam sido presos e maltratados.
Quis superar essa distância. O trabalho deve incluir uma reformulação de consciência também da polícia para que juntos possam avançar.
Um repórter da Globo perguntou a José Júnior se o AfroReggae aceitaria, após a pena cumprida, o assassino de Evandro, caso quisesse se recuperar nos projetos deles. Júnior disse que sim.
O que aprendeu com a vida que teve e com o trabalho do AfroReggae é que todo mundo merece não apenas uma segunda chance, mas uma terceira, quarta, quinta até que encontre o seu caminho.
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