sábado, 4 de abril de 2009



INTER, CAMPEÃO DE TUDO

Não, cem anos não é muito. É pouco mais do que o dobro da minha idade. Pois em esquálidos cem anos, completados neste 4 de abril, o Internacional de Porto Alegre conquistou tudo que um clube pode alcançar: campeonatos estadual, nacional, sul-americano, latino-americano e mundial.

Sem contar, claro, outros como Copa do Brasil, Recopa, Dubai. É uma extraordinária coleção de títulos. E vai começar tudo de novo. O Inter existe, para mim, de fato, desde 1970. Foi quando, em Palomas, eu comecei a realmente entender o que significava ser colorado. Os mais velhos lembram de jogadores fantásticos.

A minha seleção colorada de todos os tempos, porém, é feita com atletas de 1975 para cá. É uma seleção diferente. Tem, pelo menos, 23 titulares. É a lista dos que me encheram os olhos e me fizeram (fazem) torcer.

Manga (Taffarel), Cláudio Duarte, Figueroa, Gamarra (Índio) e Jorge Wagner (Cláudio Mineiro); Falcão, Tinga, Carpeggiani, Fernandão, Jair e D’Alessandro; Valdomiro, Dario (Flávio, Claudiomiro, Rafael Sóbis, Pato, Nilmar) e Lula (Mário Sérgio).

Ainda seria possível acrescentar uns reservas: Alex, Escurinho, Luís Carlos Winck e, um pouco mais antigo, o Bráulio. Sim, atrevo-me a entrar nessa interminável polêmica. Bráulio jogava muito. E no Maipu, famoso cabaré de Porto Alegre, havia quartos. Mas isso já é outro assunto, de historiador.

Desde que vejo o Inter jogar, cada vez mais apaixonado, aprendi uma coisa: o Colorado nunca correspondeu ao modelo dito gaúcho de jogar futebol. Sempre buscou a arte, a elegância, o esmero, a técnica apurada. Um exemplo: qual o maior volante da história do futebol mundial? O colorado Paulo Roberto Falcão. Ao mesmo tempo, o Inter jamais se mostrou arrogante. A marca do Colorado é um certo humor fino.

Há quem goste de comparações com países vizinhos. O futebol colorado sempre esteve mais próximo do argentino que do uruguaio. Temos, ainda que seja inadequado falar assim, mais alma portenha que uruguaia.

Mesclamos técnica refinada com garra limpa e ideais estéticos clássicos. É uma escola de pensamento, uma filosofia de vida, uma concepção de mundo. Na verdade, não precisamos de comparações com platinos, pois somos, antes de tudo, galácticos gaudérios, um misto de tradição, metamorfose permanente e élan vital inesgotável.

Falcão foi o Pelé da era pós-Pelé. Pato poderá ser o Pelé da era pós-Falcão. Nilmar é um escultor de lances que saem de forma moldados em mármore. E a fábrica de craques continua a funcionar toda semana. Taison, guri travesso de faca na bota, está aí para provar que mais cem anos de glória já começaram.

O segredo do Colorado sempre foi, porém, levar a vida na flauta. O futebol para o torcedor é um jogo. Serve para brincar. Colore a vida. Não pode ser o sentido da vida. Faz cem anos que o Internacional desafia o Grêmio.

Essa rivalidade enriquece o imaginário do Rio Grande do Sul. Um não pode viver sem o outro. O Internacional, contudo, está um degrau acima. Entrou na mitologia, como a Grécia clássica ou a Roma Antiga.

Quem poderá esquecer o dia em que o Inter bateu o poderoso Barcelona, uma potência do futebol mundial no auge da sua força tendo como maestro o melhor jogador do mundo, o gaúcho Ronaldinho? Naquele dia, o nosso modesto Hino Rio-Grandense, Farroupilha, fez inteiramente sentido: que sirvam nossas façanhas de modelo a toda a Terra.

juremir@correiodopovo.com.br

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