sábado, 4 de abril de 2009



Quer cair em tentação? Deixe de lado os arrependimentos

Uma pesquisa feita com universitários americanos mostrou que para realmente aproveitar o prazer de comer um doce ou gastar dinheiro com uma roupa, as pessoas têm que encontrar um bom motivo racional. Sem ele, pode ser que sintam apenas culpa.
Thaís Ferreira

Vai cair em tentação? Arrume um bom motivo para não se arrepender depois.Se você acha que precisa de uma boa razão para se entregar a um prazer consumista, seja uma viagem ou uma trufa de chocolate, e não se sentir culpado depois, você está enganado. Uma pesquisa da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, publicada recentemente, sugere que não é necessário esperar um dia de trabalho exaustivo ou o fim de um namoro para se entregar a um desejo. O que você precisa ter é uma consciência tranquila.

Isso porque, segundo o resultado da pesquisa, as sensações são passageiras e não ficam registradas na memória tão bem como os pensamentos. “Depois de ter se entregado a um prazer consumista, as pessoas reconstroem suas memórias e essa reconstrução é mais dirigida pelas suas expectativas do que pela experiência real de consumo”, disse Norbert Schwarz, professor da Universidade de Michigan e autor do estudo.

Ou seja, se antes de nos deliciarmos com um chocolate muito calórico pensarmos que vamos nos sentir culpados, é essa sensação que vamos carregar em nossa consciência, ainda que tenhamos verdadeiramente nos deliciado com o doce.

O estudo analisou as expectativas e as lembranças posteriores de 176 universitários em três situações de consumo: sem nenhum motivo, como uma recompensa por um esforço e como um consolo por uma má experiência. O resultado foi que os jovens consumidores tinham expectativas mais negativas da experiência e esperavam se arrepender quando não tinham motivos para se permitir um luxo ou quando aquilo era visto como um consolo do que quando ao consumir como uma recompensa.

Ao serem questionados depois do consumo, as memórias da "tentação" eram compatíveis com os pensamentos que as pessoas haviam tido antes de ceder a um "luxo".

A pesquisa também mostrou que quando alguém quer se presentear com uma recompensa, os produtos fúteis são mais procurados porque estão ligados ao prazer imediato e individual. Por isso, elas preferem uma viagem de cruzeiro ou uma massagem a gastar dinheiro pagando uma dívida ou com um produto realmente útil, diz o estudo.

Um segundo grupo, com 184 universitários de 20 e 21 anos, dividido igualmente entre homens e mulheres, também foi acompanhado pelos pesquisadores. Depois de uma prova difícil, os homens preferiram ir tomar um drinque em um bar ou comer em um bom restaurante.

As mulheres escolheram, na maioria das vezes, se deliciar com brownies e sorvetes ou fazer uma massagem relaxante. No geral, os jovens disseram que não costumam se entregar a esse tipo de prazer sem uma boa razão devido às condições financeiras e porque eles associam esses consumos à culpa e ao arrependimento.

“Quando as pessoas se entregam a um consumo luxuoso e desnecessário elas sentem prazer, mesmo achando que vão sentir culpa depois. Mas essa expectativa negativa as desencoraja e elas podem não aproveitar de fato as atividades que iriam realmente aproveitar”, diz Schwarz. Ele explica que o sentimento de culpa pode estar associado à moral da sociedade.

“Fizemos o estudo nos Estados Unidos, onde a ética protestante prevalece e prega que o prazer deve ser merecido por meio do trabalho duro. Então, as pessoas sentem culpa quando não têm uma boa razão para consumir, mas não acham que se sentirão culpadas se tiverem um bom motivo para ceder”.

Em tempos de recessão econômica, Schwarz lembra que é preciso ter cautela na hora de se entregar às tentações. “Gastar dinheiro é muito pior quando você tem pouco dinheiro porque a sensação de culpa é ainda maior ", afirma o pesquisador. "É sempre mais sábio ficar dentro do orçamento. As pessoas devem pensar duas vezes antes de aumentar suas dívidas”.

O que ele aconselha então como uma recompensa prazerosa, no lugar do consumo? “Um passeio ou um bom papo com os amigos é tão saudável e prazeroso quanto cair em uma tentação consumista”. Mas o estudo conclui : “se você que cair em tentação, é melhor ter uma boa razão para realmente aproveitar”.

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