sexta-feira, 1 de agosto de 2008


ELIANE CANTANHÊDE

Martírio

BRASÍLIA - Nem o diretor-executivo do Procon-SP, Roberto Pfeiffer, nem a Folha exageraram ao classificar de "martírio" o sofrimento dos comuns mortais para cancelar serviços no Brasil.

É de chorar, literalmente, cancelar uma conta de celular, pedir informações em bancos (mesmo no Banco do Brasil), reclamar de serviços de TV a cabo. Na hora de nos venderem, são ótimos; na de cumprirem seus deveres e corrigirem seus erros, viram carrascos. Como apólices de seguro.

Levei meses para cancelar um celular, com gritarias, choros, batendo telefones. Você liga uma, três, dez vezes, e eles vêm com o velho truque do "disque 1 para...." Na etapa que você quer, muitas opções depois, cai a ligação.

Mesmo quando consegue concluir o processo, nada acontece. "Corrigi" o endereço e cancelei a assinatura incontáveis vezes. Nada. Quando ia ver, tinha lá uma conta. Depois, a conta mais a multa! Meses de martírio.

O decreto endurecendo com o SAC (atendimento ao consumidor), portanto, é bem-vindo e cheio de boas intenções. Atendimento 24 horas para serviços ininterruptos, como cartão de crédito e telefonia.

Um único telefone, gratuito, para informações e reclamações. Opções de contato com atendente e de cancelamento obrigatórias já no menu inicial (se os atendentes souberem o que estão fazendo, facilita muito).

Resposta à reclamação em cinco dias úteis e... cancelamento imediato. Tudo elementar.

Agora, que os órgãos fiscalizadores se tornem aptos a intervir e exigir o cumprimento de regras. No meu caso, a Anatel foi apenas mais um motivo para choros e ranger de dentes, e as horas que passei no Procon-DF não serviram para nada.

O rapaz comentou: "Todo mundo reclama da Vivo e da Tim". E daí? "Elas são muito poderosas."

É ótimo ter regras para os serviços privados. Melhor ainda se os serviços públicos forem capazes de garantir o seu cumprimento.

elianec@uol.com.br

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