sábado, 2 de agosto de 2008



"Bruxa de Barcelona" orienta Coelho

Biógrafo do escritor, Fernando Morais atribui jogadas de marketing à agente Mônica Antunes, que o representa em 160 países

Internet é principal canal de promoção, através do blog e do MySpace; para Coelho, não se trata de marketing, mas algo "derivado do prazer"

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL


As bem-sucedidas ações de promoção que cercam Paulo Coelho valeram uma menção na recém-lançada biografia "O Mago", do jornalista Fernando Morais.

O livro trouxe à tona um personagem pouco conhecido da trajetória de Coelho, a carioca Mônica Antunes, 39, sua agente desde 1990, e que representa o escritor -e somente ele- em 160 países.

Segundo Morais, em entrevista acerca de marketing, Mônica teria dito que "nove entre dez idéias geniais do Paulo dão errado". O jornalista pediu um exemplo.
"Ela contou o que me parece um "case" eloqüente, que é a história de mandar "envelopar" os ônibus de Paris com a capa de "Veronika Decide Morrer".

De todos os livros dele, "Veronika" foi o que teve o pior desempenho na França. Um desastre atribuído à "sabonetização" do livro, para a qual os franceses torceram o nariz", diz Morais.

"Sem nenhuma dúvida, a grande maga da carreira do Paulo é a Mônica. Não por acaso, ela, com aquele ar angelical, é conhecida no mundo editorial como "a bruxa de Barcelona"."

Dança com famosos

Em maio deste ano, Coelho esteve pelo que calcula ser a quinta vez no Festival de Cannes, que serve de pano de fundo para seu novo romance, "O Vencedor Está Só".

Uma foto sua no tapete vermelho ilustra o material de promoção do livro, cujo manuscrito ele leiloou por US$ 243 mil na Croisette, dinheiro doado a uma associação beneficente. "Tem uma foto minha dançando com a Natalie Portman. Você pode achar isso aí facilmente em arquivo", conta o escritor (veja ao lado).

O jornalista Paulo Roberto Pires, editor de Coelho em sua estréia na Agir, diz que o escritor é "muito consciente de todo o processo" que envolve seus livros, da publicação à promoção. "Mas acho que é um time que trabalha junto. O Paulo e a Mônica são muito complementares, ele dá muitas idéias."

O escritor, cujos demais livros pertencem ao catálogo da editora Planeta do Brasil, aceitou lançar o novo romance pela Agir seguindo orientação da agente. Mas não pisca quando o assunto é sua carreira e o peso mercadológico do lançamento.
"Nunca assinei, na minha vida, um contrato de um livro que eu já não tivesse escrito", afirma Coelho.

"Claro que o sonho dos editores é assinar os próximos três ou quatro livros. Mas o que faz o nosso poder de negociação na saída, no lançamento de um livro, ser muito grande é que nunca há a garantia do próximo", afirma Coelho.

Quanto a idéias de marketing, o escritor tende a concordar com a avaliação de Mônica, que aparece na biografia de Fernando Morais. "Ela acha que eu sou uma nulidade. E eu estou convencido de que sim."

Coelho diz que Mônica o orientou a focar em duas coisas ligadas à sua promoção em 2008: a marca dos 100 milhões de exemplares vendidos, que será comemorada com uma festa para 500 convidados, 39 deles editores do escritor, em outubro, durante a Feira de Frankfurt, na Alemanha. E também os 20 anos de publicação do "Alquimista".

"Ela fez as editoras publicarem a versão comemorativa do 20º aniversário. Acompanhada de uma exposição itinerante das capas em todas as línguas", conta o escritor, cuja exposição já passou pela Espanha e pela Itália, e viaja neste segundo semestre para Alemanha, Noruega e México.

Banda larga

A internet é uma das principais ferramentas de promoção da imagem e obra de Paulo Coelho. Em seu blog, ele pediu que seus fãs postassem fotos segurando seus livros favoritos.

Em junho, ele começou a promover no site de relacionamentos MySpace um concurso em que fãs farão um filme colaborativo, a partir de seu romance "A Bruxa de Portobello."

"Mas isso não foi idéia de marketing", defende o escritor. "A Mônica disse "a gente vai vender mais 2.000 mil livros". Acho que ela tem razão, mas é uma coisa que eu estou a fim de fazer, como a pirataria de meus livros que eu estimulei. Eu tenho essas boas idéias, mas muito mais derivadas do prazer do que do marketing."

Mônica Antunes diz que acha genial a presença de seu agenciado na internet, mas não vê as ações no mundo virtual como uma "possibilidade direta de promoção das vendas dos livros".

"É um caminho interessante, e o Paulo tem um interesse genuíno", diz a agente, que relativiza também o poder de fogo da chamada "bruxa de Barcelona".

"Acho que a dupla funciona muito bem. Eu estudei engenharia e o Paulo é um artista. Juntos chegamos em algum ponto no meio", diz Mônica.

Nenhum comentário: