Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 2 de agosto de 2008
02 de agosto de 2008
N° 15681 LÁUDIA LAITANO
Biografias
O Fantástico exibe, já há algum tempo, um quadro em que famosos e anônimos são convidados a contar suas vidas em apenas 15 segundos. A grande sacada da brincadeira é que ficamos sabendo mesmo muito sobre alguém pedindo que se apresente em apenas poucos segundos.
Porque quem cria uma breve autobiografia é obrigado a eleger, a partir de uma relação de diferentes dados biográficos, aqueles que, acredita, definem melhor a sua identidade.
Montar uma narrativa biográfica é sempre inventar uma pequena ficção. É colocar ordem e sentido, causa e conseqüência, numa sucessão de circunstâncias que, em geral, são mais desordenadas do que a gente gostaria de acreditar. Quando lemos uma biografia, portanto, na verdade estamos lendo duas: a dos fatos e a da interpretação.
Porque mesmo o bom biógrafo, aquele que faz uma apuração extensa e minuciosa sobre a vida de uma pessoa, não escapa de dar peso e interpretações pessoais aos fatos que narra, criando um personagem mais ou menos próximo da pessoa real. Ou não.
Fiel ou distorcida, picante ou chapa-branca, o fato é que uma biografia escrita sem graça e talento é sempre difícil de vencer – nenhuma vida, por mais interessante que seja, resiste ao martírio de um texto opaco.
As melhores biografias, obviamente, são as que conseguem unir as duas coisas, uma vida excepcional e um texto capaz de extrair da realidade o ritmo e o impacto da boa ficção.
Se as extensas e minuciosas biografias tradicionais podem ser lidas como grandes romances, o livro Histórias de Mulheres, da escritora e jornalista espanhola Rosa Montero, é como se fosse um volume de contos, apresentando, em interpretações muito pessoais, as trajetórias de 15 mulheres – em textos saborosos de pouco mais de 10 páginas.
É pouco para cobrir todas as peripécias das vidas de mulheres como Agatha Christie, Simone de Beauvoir, Frida Kahlo,
Camille Claudel ou as irmãs Brontë, mas graças ao talento da autora é mais do que suficiente para envolver o leitor nos cenários e na época em que elas viveram. Além de artistas célebres, há no livro personagens menos conhecidas – mas não menos interessantes.
Como a jovem socialista de inteligência extraordinária (Hildegart Rodriguez) que foi morta pela própria mãe, aos 18 anos, na Espanha dos anos 30, ou a poeta americana (Laura Riding) que criou uma espécie de seita de admiradores em torno de sua personalidade cruel e fascinante.
Geniais ou malucas, corajosas ou frágeis, o único traço comum entre elas talvez seja o fato de que viveram, toda ou a maior parte de suas vidas, em épocas em que as mulheres eram cidadãs de segunda categoria.
Com altos e baixos segundo a época e o país, nascer mulher era um handicap praticamente incontornável até meados do século passado – ontem em termos históricos. Algumas dessas personagens extraíram o máximo possível dentro do que o cenário externo oferecia, outras simplesmente sucumbiram, metafórica ou concretamente.
Ler essas biografias nos lembra como a idade das trevas é recente, e como foram corajosos, e essenciais, os homens e mulheres que ousaram remar contra a maré histórica e cultural do sexismo – não por “feminismo”, mas por “humanismo”.
Pela convicção inabalável de que classificar pessoas por sexo (ou raça) é sempre injusto e redutor, se se acredita realmente que seres humanos são complexos e surpreendentes – e capazes de contornar, não só a programação básica do seu DNA, mas o próprio caldeirão cultural em que nasceram.
Portanto, toda vez que alguém diz que as mulheres são assim ou são assado, podem isso, mas não sabem fazer aquilo, estamos diante não apenas de um anacronismo histórico, mas de uma miopia potencialmente fascista – tão retrógrada e perigosa quanto qualquer idéia fascista.
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