terça-feira, 11 de março de 2008


ELIANE CANTANHÊDE

O pior passou, a crise fica

BRASÍLIA - Lula deve estar remoendo o erro de não ir à República Dominicana para o "gran finale" de uma guerra que nunca houve.
Ele tem encontro com Chávez em Recife no dia 26 e confirmou sua ida à reunião da Unasul (América do Sul) nos dias 28 e 29. Assunto não falta. Tensão também não.

Alvaro Uribe, da Colômbia, falou poucas e boas dos vizinhos por suas ligações com as Farc. Rafael Correa, do Equador, cuspiu fogo contra Uribe e a Colômbia.

Mas, no final, uma semana de crise acabou em pizza, quer dizer, em um aperto de mão entre os dois contendores e abraços e sorrisos entre os arquiinimigos Uribe e Chávez.

O pior passou, mas a crise fica. Fica enquanto a comissão da OEA investiga as circunstâncias do bombardeio colombiano às Farc em território equatoriano; enquanto a Colômbia insiste nas ligações do Equador e da Venezuela com as Farc; enquanto eles acusam Uribe de ser pau-mandado dos americanos.

E fica, principalmente, enquanto não se souber como a questão da guerrilha vai ser tratada.

As Farc mantêm a jóia da coroa, Ingrid Betancourt, que tem apoio do governo francês, mas já soltaram alguns dos seus reféns políticos.

Também perderam seu número dois, Raúl Reyes, e continuam perdendo seus líderes. Demonstram fraqueza, portanto.

Como se trata de um grupo isolado, com poucos contatos fora, ninguém arrisca prever quais serão suas reações diante da fragilidade. Alguma ação espetacular? Reabrir canais de negociação?

A crise Colômbia-Equador não foi uma crise em si mesma, gerada por um episódio perdido no tempo e no espaço. Tem toda uma contextualização que não evaporou com um aperto de mão, alguns abraços e os sorrisos de Chávez.

E continua latente. Sem esquecer que, além das Farc, há os sanguinários paramilitares de direita. Para atacar uns, é preciso atacar os outros.

elianec@uol.com.br

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