quarta-feira, 4 de agosto de 2021


04 DE AGOSTO DE 2021
DAVID COIMBRA

Hipopótamos e homens

Estou sempre procurando notícias sobre os hipopótamos do Pablo Escobar. Você deve conhecer a história: Pablo Escobar gostava muito de hipopótamos, por isso importou quatro deles para seu zoológico particular, na Colômbia. Eram três fêmeas e um macho, só que um macho muito fogoso, cheio de entusiasmo pelo sexo oposto. Ele logo emprenhou as fêmeas e, depois da morte de Escobar, seguiu emprenhando-as, e seus descendentes também se puseram em fremente atividade carnal e o resultado foi que, hoje, a Colômbia é o lugar do mundo em que vivem mais hipopótamos fora da África. Há dezenas deles por lá, talvez centenas.

Os hipopótamos se adaptaram muito bem à Colômbia. Não há predadores que os incomodem, eles são os reis dos rios. A Colômbia, porém, não se adaptou tão bem a eles. A fauna e a flora locais começam a ser abaladas pela presença imponente dos hipos. Por exemplo: se um bando numeroso se instala num rio pequeno, eles podem simplesmente matar esse rio. Porque os hipopótamos comem muito e, por consequência, fazem muito cocô. Essa quantidade de excremento muda a composição das águas do rio e pode liquidar com os peixes que nele nadam inocentemente.

Além disso, os hipopótamos enganam as pessoas com aquela sua cara de moscões. Ao contrário do que parece, eles são agressivos e têm pouca paciência. Alguns colombianos já se machucaram ao se aproximar demais deles a fim de alimentá-los, como se eles fossem pombos.

Por isso, cientistas e autoridades da Colômbia queriam dar um jeito de conter a reprodução dos hipopótamos. Primeiro, eles tentaram castrá-los, mas vá você capar um hipopótamo. Ele, compreensivelmente, não quererá permitir e pode se irritar e se tornar bem desagradável.

Assim, os colombianos acharam melhor simplesmente abater os hipopótamos. Um até foi executado, mas a população se revoltou. O fato é que as pessoas se afeiçoaram aos hipopótamos e não admitem que eles sejam mortos.

Ou seja: os colombianos vivem um impasse. Não podem conviver com os hipopótamos, mas não querem se afastar deles.

Estou contando essa história dos hipopótamos para compará-los conosco, nós, seres humanos. Ambos, homens e hipopótamos, podemos nos tornar um estorvo. Primeiro cheguei a pensar em nos comparar aos ratos e sua velocidade de reprodução. Mas, não. Os ratos são furtivos, escondem-se nas trevas dos esgotos, enquanto nós e os hipopótamos tomamos conta do ambiente em que habitamos.

Nós, sendo tantos, como somos, decerto que estamos provocando a reação da Natureza, como escrevi ontem. É a lei de compensações biológica. Então, é de se esperar que surjam mecanismos que nos contenham, e não duvido de que o coronavírus tenha sido um desses ardis do universo. Porque, seguindo certo nexo evolutivo, o coronavírus parecia decidido a eliminar os velhos, os obesos e os doentes. No entanto, a Humanidade reagiu, criou rapidamente vacinas para impedi-lo, e agora ele está em busca de uma saída. Novas variantes estão sendo lançadas, o vírus está se adaptando.

O que virá a seguir? Um vírus que atacará os estressados? Um vírus que terá a tristeza como alvo? Qual será a lógica evolutiva do coronavírus? Que tipo de ser humano ele quererá remover do planeta? Precisamos ter cuidado. A Natureza está de olho em nós.

DAVID COIMBRA

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