03 DE AGOSTO DE 2021
Ratos e homens
Nós somos muitos. Estou falando de nós seres humanos. Há 8 bilhões de Homo sapiens debaixo do sol, e esse número continua aumentando. É gente demais. Quando nasci, menos de 60 anos atrás, éramos 3 bilhões. Quase triplicamos, de lá para cá, e os espaços que o mundo oferece são os mesmos. Por isso está tudo sempre lotado. Onde você vai você encontra gente.
Na classe dos mamíferos, talvez só os ratos nos superem. Os cientistas fazem um cálculo: existem três ratos para cada ser humano. Ou seja: são 24 bilhões de ratos no planeta.
Houve uma invasão de ratos nas fazendas da Austrália. Vi as cenas dos vídeos gravados pelos australianos. Ratos por toda parte, subindo nas mesas, entrando nos carros, enfiando-se nas fronhas e aninhando-se debaixo dos lençóis, devorando plantações, colheitas e os mantimentos das despensas. Tantos, mas tantos ratos, que os fazendeiros dizem que o chão treme quando eles correm.
Um cientista disse, numa entrevista, que a quantidade de ratos na Austrália é tamanha que a Natureza ainda vai levar algum tempo para reagir e reequilibrar o sistema ecológico. Aos poucos, porém, deve aumentar o número de predadores dos ratos, ou eles serão vitimados por doenças e morrerão, e a situação se normalizará. Porque a Natureza está sempre em busca do equilíbrio, ela cria sistemas de compensações para que a vida siga seu curso sem maiores traumas.
Bem. Isso me levou a pensar em nós, humanos, que não paramos de nos reproduzir, como... bem, como ratos. A Natureza, sábia que é, deve estar preocupada com essa explosão demográfica. Nós estamos ameaçando as outras espécies, estamos ameaçando o próprio planeta.
Algumas coisas que fazemos são belas, é verdade. As sinfonias de Bach e Beethoven. As músicas dos Beatles. As pinturas impressionistas. As esculturas de Michelangelo. Além disso, da nossa espécie surgiu Marina Ruy Barbosa. Agora: você já viu o que fizeram com Camboriú? Está certo: muita gente gosta daquele tipo de praia, mas será que a Natureza aprova uma doce baía tomada por arranha-céus que tapam o sol e bloqueiam os ventos?
Manhattan eu entendo. Há pouco espaço horizontal em Manhattan. Assim, os americanos optaram pela solução ousada, os prédios altíssimos que já tinham mudado a paisagem de Chicago foram adotados pela ilha e acabou ficando típico, cult, clássico, um charme.
Mas nem todo lugar é Manhattan. Lembre-se disso, construtor de arranha-céus: nem todo lugar é Manhattan.
Enfim, o que quero dizer é que, no nosso pouco tempo de civilização, começamos a bagunçar o mundo seriamente. É assustador. Pense: a Terra, esse lindo planeta azul, tem cerca de 4 bilhões de anos de idade. A vida sobre a Terra é mais nova: 3 bilhões. E nós, humanos, fomos nos diferenciar dos chimpanzés há apenas 6 ou 7 milhões de anos. Mas, naquela época, tudo bem, éramos poucos - o cálculo é que, há 10 mil anos, não passássemos de 1 milhão. O problema foi a partir daí, quando tudo mudou. É que, nesse período, foi inventada a civilização. Passamos a comer melhor e a ter melhores condições de higiene, passamos a nos defender com mais eficiência de predadores e intempéries, passamos a nos reproduzir com mais segurança e com maior velocidade.
E aqui estamos. Em nada mais do que 10 mil anos, saímos de 1 milhão para 8 bilhões. É claro que a Natureza vai procurar formas de nos controlar. Donde, o aparecimento de ameaças à vida humana, como o coronavírus. Preciso desenvolver essa ideia. Mas, como ocorre em Camboriú, estou sem espaço. Ocuparei a próxima coluna com isso.
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