quarta-feira, 4 de agosto de 2021


04 DE AGOSTO DE 2021
MARIO CORSO

Você já superou a fase dos dinossauros?

A pandemia me deixou longe do meu sobrinho na fase em que o crescimento é exponencial, o começo da adolescência. No aniversário dele, notei que perdi a conexão para saber o que mandar de presente. Fui no fácil: enviei um livro sobre dinossauros para o Tomas, uma pequena enciclopédia sobre o tema. Garotos amam monstros.

A fase de dinossauromania começa na infância e termina com a adolescência. É fácil entender o fascínio: os dinossauros dominaram o planeta, eram enormes, apavorantes, máquinas de matar e devorar, porém hoje só restam ossos. Portanto, um reinado majestoso que se foi. As mitologias narram semelhantes titãs derrotados. Antes dos deuses atuais, sempre houve outros. Em um momento entraram em declínio, foram superados e abriram caminho para novas divindades. Não raro, os heróis fundadores da humanidade vencem dragões, ou seres gigantescos assemelhados. Essas figuras dinossauroformes representam o caos primordial.

A lição é clara: cada geração derrota a anterior. Essa é a marcha inevitável da vida. Na infância e na adolescência, quando se está sob o jugo da geração anterior, é providencial o encantamento com esses antepassados lendários. Além da certeza de que os poderosos podem ser derrotados, podemos amar o passado pulando a geração, por ora, odiosa dos pais.

Os dinossauros são os deuses anteriores, nossos avós míticos. Reverenciá-los permite renegar a influência atual dos pais e o tempo presente, mas, na fantasia, seguir com o pé na história. Tentamos apagar parte da ancestralidade, mas fincamos raízes em outros seres notáveis.

Por isso amamos nossos avós: eles são nossos cúmplices. Já não detêm o poder nem o vigor, mas são testemunhas da história, especialmente a dos nossos pais. Conheceram eles quando eram pequenos e fracos. Sua época auge se foi e estão agora perto das crianças, amando a continuidade de sua história, não mais nos filhos, que sempre acabam traindo alguns dos ideais projetados neles, mas podendo sonhar que os netos relançarão a grandeza que imaginaram para os primeiros.

O que fazer quando a fase de dinossauromania, como no meu caso, não acaba? Haverá outra razão para que pessoas passem a vida encalhadas no passado? Ensaio uma resposta: os homens se movem por perguntas subterrâneas que lhes dão o norte espiritual, mas elas não têm o mesmo peso para cada um. O que é o homem? De onde viemos? Para onde vamos? O que é a vida? Deus existe?

Sou mesmerizado pela segunda pergunta, que ao meu ver responde a primeira. Não me restrinjo aos dinossauros, amo mesmo a pré-história. Quando o primeiro macaco fez algo que possa ser chamado de humano? Qual a primeira manifestação da cultura?

O passado guarda tantas respostas, que meu conselho para o Tomas é: nunca deixe os dinossauros para trás.

MARIO CORSO

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