02 DE AGOSTO DE 2021
DAVID COIMBRA
Como salvar o Grêmio
Dias atrás, a Rádio Gaúcha apresentou alentadas reportagens sobre a Varig, seu apogeu e sua queda. Deu certa nostalgia ouvir de novo a musiquinha que a empresa colocava para rodar nas rádios e nas TVs em cada dezembro:
"Estrela brasileira no céu azul
Iluminando de Norte a Sul
Mensagem de amor e paz
Nasceu Jesus, chegou o Natal".
O ano não terminava se não ouvíssemos a musiquinha de Natal da Varig.
Como é que uma empresa poderosa daquelas quebrou? Como é que empresas poderosas quebram? Como isso foi acontecer?
Não há uma única resposta para as perguntas. São diversas as causas da decadência da Varig, sempre são diversas as causas da decadência de grandes empresas. No entanto, há um ingrediente que sempre está presente quando isso acontece: o erro dos dirigentes. Se o comando é sábio, a empresa não vai à falência, a não ser que ocorram mudanças dramáticas de contingências. Por exemplo: tempos atrás, visitei Rochester, uma cidade que foi duramente abalada pelos problemas enfrentados por duas empresas que eram sediadas lá: a Xerox e a Kodak.
Por que a Xerox e a Kodak enfrentaram problemas?
Ora, porque o mundo mudou. As pessoas têm em casa suas próprias copiadoras e têm no celular seus álbuns de fotografias.
Assim aconteceu com empresas de máquinas de escrever e com as locadoras de vídeo. Fatores externos derrubaram esses gigantes. Mas essas são exceções. Em geral, a desonestidade ou a incompetência de dirigentes é que vitimam empresas.
No futebol é exatamente igual. Um grande clube pode ser quase destruído por direções incompetentes ou desonestas. Há vários casos ilustrativos no futebol brasileiro. O mais trágico deles é o do Cruzeiro, mas até o Inter sofreu por conta desse mal.
E o Grêmio?
Se o Grêmio cair para a segunda divisão, que é, na prática, o pedido de concordata de um grande clube, se isso acontecer, onde foi que a direção errou? Afinal, se os erros da direção SEMPRE são ingredientes do fracasso de uma empresa ou de um clube, quais são os erros desses dirigentes? Mais especificamente: quais são os erros de Romildo Bolzan?
Bem. Por tudo o que se sabe, posso afirmar que Bolzan não é desonesto. Incompetente também não é, pelo menos na condução financeira do clube.
A questão é o futebol. As falhas da direção do Grêmio estão na forma como é feito o futebol, e isso venho repetindo há três anos. Em 2016 e 2017, o Grêmio obteve conquistas históricas e, depois disso, sua fórmula de vitória se desgastou. Era preciso haver renovação, e renovação não houve. Ao contrário: os defeitos foram se acumulando enquanto os méritos foram perdendo eficiência.
O Grêmio se sustentou graças à hegemonia regional, porque seu rival, o Inter, atravessa uma séria crise causada, exatamente, por péssimas direções não muito tempo atrás. As boas classificações do Grêmio nos campeonatos nacionais e internacionais aconteceram sobretudo devido a uma dupla excepcional de zagueiros, Kannemann e Geromel, que nem conseguem mais jogar juntos, tal a sequência de lesões.
Os erros diretivos, portanto, vêm de longe, e se agravaram.
Se Romildo quiser salvar o Grêmio (e é claro que quer), terá de mudar sua maneira de dirigir o futebol. Terá de pedir ajuda a quem sabe mais sobre o mercado e sobre jogadores do que ele. Terá, sobretudo, de gastar, e gastar bem. Se não fizer isso já, dentro de seis meses estaremos perguntando a respeito do Grêmio o mesmo que perguntamos a respeito da Varig: como isso foi acontecer?
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