22 DE JULHO DE 2023
CENSO 2022
Onda de migrantes estimula abertura de novos negócios Na Fronteira Oeste, economia provoca redução populacional
A onda de migrantes aquece a economia local. Após a prefeitura criar a "sala do empreendedor" para auxiliar quem deseja abrir um negócio, mais de 300 microempresas individuais (MEIs) foram abertas nos últimos seis anos. Se, quatro anos atrás, o município arrecadava R$ 5 mil ao mês em imposto com MEIs, agora o valor subiu para R$ 100 mil mensais.
- Há oportunidade de trabalho em cidades vizinhas. Quando as grandes empresas crescem, há necessidade de mais funcionários e de empresas terceirizadas que vão contribuir para as grandes companhias. Em Araricá, estão surgindo muitos ateliês. É só passar em Araricá que você vê que há várias empresas chegando e se instalando. Além disso, é uma cidade menor, com aluguel mais em conta e com boas escolas. Isso atrai as pessoas - diz Luiz Paulo Grings, presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Sapiranga, Araricá e Nova Hartz.
A migração pendular - quando uma pessoa mora em uma cidade e trabalha em outra - é comum no Brasil, um país onde o aluguel consome grande parte da renda, observa o geógrafo e demógrafo Ricardo Dagnino, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Este é um dos motivos para cidades ao redor de capitais terem crescido no Brasil como um todo. Viver em uma cidade mais barata e trabalhar em outra localidade torna- se opção para muitos.
- É importante pensar que quem emigra geralmente não emigra sozinho. O chefe da família vai e leva as crianças junto. Então o pai que resolve se mudar para Araricá e trabalha em outra cidade acaba fazendo uma pequena viagem até o trabalho, mas sabe que a família estará bem protegida em Araricá - explica Dagnino.
Enquanto Araricá, no Vale do Sinos, foi a cidade que mais cresceu em população entre os censos demográficos de 2010 e 2022, Uruguaiana, na Fronteira Oeste, foi a que mais encolheu: em 12 anos, o número de habitantes caiu 6,6% - de 125.435 moradores para 117.210.
O êxodo não é exclusivo do município: a região sul gaúcha e a Fronteira Oeste como um todo encolheram nos últimos 12 anos. Uruguaiana, aliás, já havia perdido população entre 2000 e 2010 (cerca de mil pessoas a menos entre os dois levantamentos).
Mesmo a criação do campus com cursos da área da saúde da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) em Uruguaiana - incluindo Medicina, Farmácia, Enfermagem e Fisioterapia - não foi capaz de segurar a população.
O isolamento geográfico do município e a menor oferta de empregos explicam a saída de habitantes, diz o geógrafo e demógrafo Ricardo Dagnino, professor da UFRGS. É necessário percorrer grandes distâncias até chegar a outras cidades grandes da região - cerca de duas horas de carro até São Borja ou Alegrete, por exemplo.
- Se, por um lado, Araricá está entre Porto Alegre, Serra e Litoral, a cidade de Uruguaiana está isolada na Fronteira Oeste, que perde população há décadas. É uma região de agricultura de latifúndio, de pecuária e de mecanização que não demanda tanta mão de obra como o Vale do Sinos, onde há fábricas que demandam muitos trabalhadores. Se não tivesse a Unipampa, será que não seria pior (o êxodo)? O lugar oferece faculdade e atrai pessoas. Mas, depois da faculdade, o que a política pública oferece para permanecerem ali? Se não tiver emprego, a pessoa vai atrás em outro lugar - diz o demógrafo.
Potencial
Presidente da Associação Comercial e Industrial de Uruguaiana, Luís Kesller reconhece que faltam empregos para jovens no município, mas diz que há potencial a ser explorado.
- Esse fenômeno (de perda populacional) é de toda a Metade Sul. O agro é forte aqui e não emprega muito com as novas tecnologias. Faltam incentivos para instalação de indústrias de maior valor agregado. Estamos trabalhando na duplicação da BR-290. Se finalizar, poderia favorecer a geração de empregos. Uruguaiana é uma das cidades com maior cruzamento de estrangeiros, o que poderia ser aproveitado para turismo e também feiras ou eventos culturais. Isso tudo gera emprego. Tem oportunidades, só não estamos ainda conseguindo acertar a mão.
A reportagem tentou entrevistar o prefeito de Uruguaiana, Ronnie Mello (PP), desde a terça-feira, mas ele não quis se manifestar. Em entrevista a ZH no início do mês, o prefeito discordou dos resultados do IBGE e afirmou que não houve redução tão grande da população. Ao mesmo tempo, reconheceu o fenômeno de migração em busca de melhores oportunidades de emprego em outras cidades.
- Pessoas saíram da região da fronteira para buscar oportunidades. Temos de fazer o dever de casa e corrigir, oferecer condições de inserção no mercado de trabalho. É o que estamos fazendo - disse Mello.
A redução de habitantes detectada pelo IBGE implicará menor repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Por isso, a prefeitura informou que agentes comunitários estão compilando informações para checar as estatísticas do instituto.
"Transparência"
Sobre suspeitas acerca da formulação do Censo, o IBGE emitiu nota na qual afirma que a pesquisa é "transparente" e que seguiu "rigorosamente recomendações, parâmetros e protocolos para censos de população, definidos pela Divisão de Estatística das Nações Unidas e de acordo com os Princípios Fundamentais das Estatísticas Oficiais".
O IBGE também acrescenta que introduziu inovações tecnológicas e que "do alto de sua reputação, está entregando à sociedade um Censo com qualidade e confiabilidade indiscutíveis. Sem dúvida, trata-se do Censo mais tecnológico e com maior monitoramento e análise em tempo real da história dos Censos, realizados há 150 anos no Brasil".
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