A saúde da timidez
Timidez não é doença. É característica de uma personalidade que prefere pensar duas vezes, lapidar os seus desejos em silêncio, agir com cautela, trabalhar sem alarde. O sucesso de uma vida não depende da capacidade de socialização.
Albert Einstein era tímido. O físico alemão não tinha nenhuma vontade de se relacionar com grandes grupos. O inglês Isaac Newton jamais se casou e dificilmente saía para rua. O fundador da Microsoft, Bill Gates, sempre teve poucos amigos. O cineasta Steven Spielberg é conhecido por fugir de eventos sociais. A escritora JK Rowling, que criou a série Harry Potter, já se declarou uma introvertida inveterada, e escreve para não ter que enfrentar multidões.
Apesar desses exemplos de êxito nas mais diferentes áreas de conhecimento, questiona-se quem tem uma conta privada, quem não gosta de se expor em público, quem não faz festa de aniversário, quem não tem milhares de seguidores.
Como se a timidez fosse um defeito, uma falha de formação. Se você não toma a iniciativa no amor ou no trabalho, já recebe a pecha de covarde e frouxo. Se a criança não dança, não canta, não se exibe para os pais na frente das câmeras, é identificada como fóbica.
Se ela treme em apresentação de tarefa na frente da lousa em sala de aula, gagueja na leitura dos textos, será mal avaliada pelo professor. A que ponto chegamos? Nem todo mundo precisa ser popular, comunicativo, expansivo. Nem todo mundo precisa de curso de oratória. Nem todo mundo precisa dispor do desembaraço político. Nem todo mundo precisa ser vaidoso e exibicionista. Nem todo mundo precisa querer selfie e vitrine.
Vigora em nossos tempos de superexposição uma ditadura da desinibição que problematiza o que é natural e próprio dos indivíduos mais reservados. Uma tirania midiática desde a infância, uma pressão das redes sociais que traumatiza mentes singulares que se sentem mais à vontade quietas.
É o equivalente a obrigar um canhoto a ser destro. Haverá quem não mostra a cara, mas mostra o coração em seu ofício. A liderança não é exclusiva do púlpito e do microfone. É um dom da criatividade que emerge da experiência mais profunda com as suas emoções.
Vejo uma censura massacrante aos alunos meditativos e sonhadores, aos funcionários discretos. Se alguém não se destaca entre os seus colegas, não apresenta traços sociáveis, conclui-se que esconde problemas de convivência, que deve se tratar.
De antídoto, recomendam-se excursões, interações, palcos, confraternizações, tudo de modo forçado para arrancar do outro o seu medo de se enturmar. Mas não é medo, é escolha, uma preferência de conduta. Desde quando inteligência é extroversão?
Cada um pode escolher o seu jeito de ser feliz. Amar na sua é também amar. Trabalhar na sua é também trabalhar. Estudar na sua é também estudar. Não é uma incompetência.
O pudor representa uma virtude da moderação e da paciência, um sinal de educação, uma manifestação de autocuidado. Quisera que a maior parte da sociedade não fosse tão afobada e impulsiva. Vamos permitir a timidez.
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