sábado, 22 de julho de 2023


22 DE JULHO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

OS SONHOS

Os sonhos, sonhos são - diz um poema, referindo-se a desejos, devaneios e aspirações. Mas há, também, os sonhos noturnos, aqueles em que rememoramos pessoas e situações ou que nos sugerem invenções ou até os números da futura Mega-Sena acumulada?

Noites atrás, sonhei longamente com Samuel Wainer, que me levou ao jornalismo e foi o ícone renovador da imprensa no Brasil. Até o surgimento de Wainer, primeiro com a revista Diretrizes e, mais tarde, com o jornal Última Hora, a imprensa brasileira era inócua, tímida e atrasada, dando mais importância ao que hoje chamamos de "acontecimentos sociais" do que à realidade em si das cidades, do país e, até, do mundo.

Wainer fez no jornalismo brasileiro uma "revolução" no bom sentido do termo. Seu jornal, surgido no Rio de Janeiro, era editado simultaneamente em sete capitais, inclusive Porto Alegre. Em 1962, Samuel Wainer me tirou do RS e me levou a Brasília como colunista político dos seus sete jornais.

Antes, em 1954, ele esteve preso por alguns dias, num episódio que teve traços nazistoides e antissemitas, provocado pela antiga "grande imprensa", que se sentia "prejudicada" pelo êxito dos jornais de Wainer.

Agora, ele reapareceu em meus sonhos, e com tanta presença que, ao me despertar, fiquei a pensar até que ele estava ainda vivo e presente no dia a dia. Só minutos depois, percebi que ele falecera na década final do século passado.

Tratou-se, penso eu, da mostra de que os sonhos do sono, mesmo que não modifiquem o passado, podem nos afiançar desejos melhores para o futuro. E nisto, o correto jornalismo é fundamental, pois os fatos formam opiniões e convicções.

Dias atrás, este jornal noticiou dois dados estarrecedores pela brutalidade que representam: de um lado, a informação de que, em nosso Estado, os acidentes de trânsito provocam uma morte a cada cinco horas.

De outro lado, noticiou que o benemérito Instituto de Cardiologia se vê obrigado a um corte mensal de R$ 16 milhões a R$ 18 milhões para poder zerar o déficit operacional.

Não consigo entender o que é pior e mais brutal - se os acidentes do trânsito que mata, ou o corte dos gastos do Instituto de Cardiologia que salva vidas!

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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