Deflação em junho reforça aposta de corte da taxa Selic
IPCA cai 0,08% no país, a primeira vez neste ano. Variação no mês passado é a menor para o período em seis anos
A deflação de junho reforça a tendência de corte na taxa de juro básico do país no próximo mês. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu 0,08% no mês passado, segundo dado divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse foi o primeiro recuo no indicador no ano e a menor variação para o mês de junho desde 2017.
A retração na média dos preços amplia o ambiente favorável para o Banco Central (BC) iniciar a curva de queda da Selic na próxima reunião, marcada para os dias 1º e 2 de agosto. Agora, a dúvida paira sobre o tamanho da primeira lasca, aguardada por boa parte dos setores econômicos no país.
O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que o IPCA de junho conversa com as expectativas, que apontavam queda de 0,10%. A deflação é explicada pelo recuo nos preços dos alimentos, dos combustíveis e dos veículos novos, impulsionada por benefício pontual do governo federal. Braz destaca a desaceleração dos núcleos de inflação, que mostram uma informação preciosa ao BC na linha de que a inflação está realmente cedendo:
- Com o resultado de hoje (ontem), acho que tem uma relativa segurança para a autoridade monetária rever a Selic. Não só pelo número negativo, mas sim pelo efeito generalizado de descompressão da inflação.
Braz projeta corte iniciando em agosto, mas de maneira mais tímida, em 0,25 ponto percentual. Revisões mais profundas devem ocorrer ao longo do segundo semestre, avalia.
O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, afirma que a deflação de junho se soma a uma série de fatores que convergem para o cenário mais otimista para o início da reversão da curva da Selic no país. Dentro desse rol de influências, ele cita o câmbio mais favorável e a manutenção das metas de inflação, que reduz as incertezas:
- Isso fez com que as expectativas de inflação de longo prazo caíssem. Somado ao IPCA de junho, abre uma janela boa de oportunidade para o Banco Central começar a cortar a Selic em agosto.
Sobre o tamanho do corte, Sung também estima redução de 0,25 ponto percentual em agosto. Ele justifica a projeção no histórico dos últimos posicionamentos da autoridade monetária, que prezou pela paciência e moderação:
- Acho que a diferença entre a minha visão e a de muitos que esperam 0,50 ponto percentual é um pouco do que o Banco Central vem comunicando nas últimas reuniões. De não tomar nenhuma decisão precipitada, muito incisiva e prezar por essa parcimônia no início do ciclo de queda de juro.
O economista André Perfeito também enxerga cenário de inflação sob controle e reforça que a dúvida do momento paira sobre a intensidade do primeiro corte. Ele avalia que existe espaço para corte mais robusto, de 0,50 ponto percentual, na próxima reunião.
O especialista calça essa possibilidade no histórico mais alongado do BC, que cortou o juro de maneira mais forte no início da pandemia e subiu com mais intensidade ante outros países nos últimos anos.
Para os próximos meses, especialistas consultados pela reportagem de GZH estimam inflação com novas altas na variação mensal após a deflação de junho. Isso ocorre porque não serão mais registrados alguns fenômenos, como queda no preço dos combustíveis e no valor dos carros novos.
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