Tendência de queda no consumo familiar
A Fecomércio-RS divulgou a Intenção de Consumo das Famílias (ICF-RS) para o mês de junho. O indicador de Intenção de Consumo funciona como um termômetro, capaz de antecipar as vendas do comércio varejista e das atividades de serviços voltadas às famílias. Segundo os dados, a edição do mês passado evidenciou uma queda nas intenções de consumo entre os gaúchos. Na margem, houve recuo de 4,1%. Já na comparação com igual período do ano passado, houve aumento 3,5%. Dessa forma, o índice atingiu os 77,8 pontos, menor resultado desde novembro de 2022 (76,8 pontos).
Assim como na edição anterior, apenas o indicador de Acesso a Crédito apresentou aumento na margem. O indicador que reflete a segurança com o emprego atual intensificou a queda e atingiu os 94,8 pontos (menor resultado desde julho de 2022 - 93,5 pontos). Na comparação com o mesmo período de 2022 houve aumento (5,7%). Apesar de o mercado de trabalho ainda se mostrar resiliente neste primeiro semestre, 24,9% dos entrevistados sentem-se menos seguros no emprego atual. Todavia, no ano anterior, esse patamar era ainda maior, 32,7%. Na avaliação quanto ao patamar da renda atual, a queda na margem foi menos intensa do que no mês anterior (-3,2%), mas na comparação interanual também houve recuo -5,7%.
- A intenção de consumo das famílias gaúchas tem apresentado queda na margem desde abril de 2023. Praticamente todos os componentes do indicador têm o mesmo comportamento. Um consumidor com uma intenção de consumo reduzida é um desafio para as vendas. Sempre é mais difícil vender para alguém com confiança menor, exigindo de lojistas e prestadores de serviço um esforço de venda ainda maior - comentou Luiz Carlos Bohn, presidente da Fecomércio-RS. O ICF-RS se encontra abaixo dos 100 pontos desde abril de 2015.
O indicador de nível de consumo atual teve recuo sensível de 8,5% na margem. Em comparação a junho de 2022, houve aumento de 14,3%. Assim, esse indicador atingiu o nível de 83,2 pontos, o menor desde dezembro de 2022 (81,2 pontos). Nesta pesquisa, 43,2% dos entrevistados seguem afirmando que estão comprando menos atualmente do que no mesmo período do ano anterior.
Qual o papel do desenvolvimento sustentável hoje?
O modelo econômico de hoje é de 200 anos atrás, baseado em premissas que já não se sustentam. Uma delas é a de que os recursos naturais são infinitos, e não são. A economia foi inspirada em perspectiva linear, quando, hoje, devemos construir uma economia circular. Também foi baseada em combustíveis fósseis, e vai ter de migrar para energias renováveis. A agricultura sempre foi expansionista, mas temos que fazer a transição para as agroflorestas, com agricultura familiar mais produtiva. Todo o modelo está ultrapassado. Os poderes econômicos constituídos são da "velha economia". É um processo que envolve escolhas difíceis, mas é inevitável.
E a COP 30 no Brasil?
A luta internacional pela proteção do meio ambiente teve um marco muito significativo no Brasil com a Eco 92, e a COP-30 vai ser outro marco, 33 anos depois. Temos potencial para exportar soluções climáticas, mas, antes, precisamos de ações. Primeiro, acabar com o atual nível de desmatamento, que é uma vergonha. Segundo, chegar na COP com planos de mitigação e adaptação muito bem definidos para mostrar que temos planejamento de transformar a economia brasileira em uma economia de baixo carbono, com produtos feitos a partir de energia limpa.
Quais seriam as soluções?
Uma dessas soluções que o Brasil pode ser exportador é o próprio hidrogênio verde. O mundo inteiro está interessado no nosso potencial. Por isso, temos que aprimorar cada vez mais os níveis de energias renováveis na nossa matriz elétrica e na nossa produção para atrair indústrias e empresas globais para produzi produtos verdes no nosso território, gerando ainda mais empregos aqui, o que também é fundamental.
Já há reflexos climáticos?
Essa é uma prioridade. A gente viu o último relatório do IPCC, que mostra as consequências das mudanças climáticas muito mais rápidas e fortes do que se esperava. Há mais inundações, secas, ciclones e outros eventos extremos. Adaptar cidades e territórios é fundamental. O governo federal está comprometido em renovar o plano nacional de adaptação, que é de 2016, e atualizá-lo levando em conta fatores prioritários como saúde, recursos hídricos, energia, moradia. Vocês no Rio Grande do Sul, por exemplo, têm sofrido muito com ciclones, estiagem, os mapas de cenários climáticos projetam grandes inundações na região a partir de 2030, e quem sofre com esses impactos são as pessoas, principalmente os socialmente mais vulneráveis.
Muita gente ainda acha que os efeitos da crise do clima somente vão ser sentidos lá na frente, no futuro, mas vocês gaúchos são um exemplo de como esses efeitos já estão sendo sentidos hoje. Ana Toni, após carreira dedicada à proteção do meio ambiente na sociedade civil, assumiu neste ano seu primeiro cargo público a convite de Marina Silva para liderar a recriada Secretaria Nacional de Mudança do Clima. Na entrevista, elenca algumas prioridades.
ANA TONI Chefe da Secretaria Nacional de Mudança do Clima no Ministério do Meio Ambiente
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