Presente grego
Todo dia tem alguém de aniversário. Eu mesmo vou passar por isso no próximo mês. Mas já vou avisando aos amigos que porventura se lembrarem da data ou forem alertados por algum algoritmo intrometido:
- Por favor, não me mandem presentes por entregador! Vade retro, vigaristas! Não aceito, não sou a pessoa contemplada, não uso cartão bancário, sequer costumo fazer aniversário. Não vou cair nesse golpe manjado!
Mas poderia ter caído, como muitos vêm caindo em vários Estados brasileiros, especialmente alguns homens e mulheres que já fizeram muitos aniversários na vida, como este cronista cada vez mais vacinado de informações e de leituras. O golpe do presente é do tempo da Idade do Bronze.
Mais exatamente, pelo que se conhece, do ano 1.300 antes de Cristo.
Segundo o poeta Homero, uma tal Helena, rainha de Esparta e considerada a mulher mais bela da Terra na sua época, teria trocado umas mensagens de WhatsApp com o príncipe encantado Páris, de Troia - e os dois acabaram fugindo juntos. O rei espartano Menelau ficou furioso e mandou seu exército destruir a cidade lendária e recuperar a rainha.
O cerco durou 10 anos e, como os troianos não se rendiam, o guerreiro Ulisses teve uma big idea, como se dizia no mundo da publicidade: os gregos construíram um gigantesco cavalo de madeira, simularam a retirada e deixaram o trambolho no portão dos espartanos como um presente de paz.
Deu no que deu: iludidos, os presenteados pagaram o motoboy com o cartão de crédito, levaram o cavalo cheio de guerreiros inimigos para dentro da cidade e acabaram perdendo a guerra, a poupança, a autoestima e até a rainha apaixonada.
Presentes gregos, senhoras e senhores. Não aceitem. Desconfiem de tudo. Não existe bilhete premiado, não é verdade que seu filho quebrou o telefone e está trocando de número, o banco não liga para ninguém (em todos os sentidos), não existe almoço grátis, não beba com desconhecidos para não cair no Boa Noite Cinderela, empréstimo vantajoso é cilada, seu parente que telefonou de madrugada não foi sequestrado, recuse ajuda de estranhos no caixa eletrônico, não se deixe filmar na hora de digitar a senha, evite passar informações pessoais, mesmo que o sujeito do outro lado da linha demonstre saber tudo sobre você.
Não vacile, não dê presente aos golpistas que proliferam por aí, na vida real e no mundo digital. Pé-atrás, gente, e feliz aniversário para todos nós.
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