Sejamos mais intensos, menos ansiosos. Na ansiedade, você se encontra ausente do lugar, do encontro, da conversa, preocupado unicamente com o futuro. Experimenta uma precipitação infinita, uma vontade insana e impossível de ter controle sobre os acontecimentos próximos.
Na intensidade, você não adoece com o porvir, está inteiro no presente. Não existe mais nada, a não ser o presente. É uma entrega corajosa a cada momento vivido, uma urgência de atenção que não se guarda para depois, que não se adia.
Talvez devamos aprender mais com os cachorros. Com a saudade dos cachorros, que é oposta da nossa. A nossa saudade é medida pelo tempo, pela régua cronológica. De acordo com a distância e a espera, sentimos falta de alguém. Ela não é imediata, porém cumulativa. Você sofre apenas depois de uma semana longe. Se passou um mês sem ver a pessoa, então nem se fala, perde-se nos suspiros. Dois meses, por sua vez, já cobra o retorno.
Somos filhos do adeus, devotos da lonjura. Cachorro apresenta uma natureza absolutamente diferente. Mais intensa. Mais pura. Possui um afeto transparente, exemplar, incondicional. Sua saudade é mais da janela do que da porta, do cheiro mais do que da imagem.
Ele não controla a sua emoção pelo relógio. Você sai de casa por 15 minutos e, na hora de voltar, o cão irá recebê-lo como se tivesse desaparecido por uma década. Com um arfar de respiração de completo abandono.
Vai pular em seu colo, fazer festa, abanar o rabo, correr de um lado para o outro, exibir a sua vitalidade, trazer um brinquedo, lamber o seu rosto.
Tente repetir a cena, fingir nova saída, fechar a porta por uma breve lacuna e logo ressurgir, o acolhimento será igual. A recepção jamais perde sua força. É uma saudade funda e oceânica de alguns instantes. É saudade fora do esquadro do tempo. É uma saudade de você, independentemente de quanto esteve fora.
Regulamos o nosso apego pelo alcance visual. Trata-se de um excesso de confiança nas aparências.
O cachorro já cria os laços pela essência, pelo agora. Tanto que é ele que o leva para passear, não o contrário. Você pode supor que ele está querendo fazer xixi, busca descer desesperadamente para a rua, precisa socializar a sua comunicação com seus colegas de bairro, gastar a sua energia, mas não: ele notou que você anda desanimado, triste, cabisbaixo, e toda a iniciativa é dele de levá-lo para a vida lá fora, para você sair do confinamento, desfrutar uma trégua de respiro e paz, arejar o coração.
O que mais testemunho pela cidade é cachorro puxando a coleira.
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