19 DE JULHO DE 2023
DÍVIDA DE R 45 MILHÕES
Instituto de Cardiologia pode cortar IPE e estuda demissões
Hospital opera no vermelho desde outubro do ano passado, e direção pretende contratar gestão e consultoria especializadas
Os atrasos nos pagamentos de salários no Instituto de Cardiologia (IC) são parte de uma crise financeira que acumula R$ 45 milhões em dívidas. A informação foi confirmada a ZH pela Fundação Universidade de Cardiologia (FUC), que administra a instituição localizada em Porto Alegre.
Para conter o prejuízo, a gestão pode deixar de atender pelo IPE Saúde já em agosto. Além disso, a demissão de funcionários é vista como necessária para equilibrar as contas - atualmente, a instituição tem cerca de 1,4 mil colaboradores. A direção do IC diz que contratará uma gestão hospitalar e uma consultoria para enfrentar a crise.
No último dia 14, após iniciarem uma greve por atraso nos salários, os funcionários do IC decidiram suspender a paralisação. A decisão foi tomada depois que a direção quitou os salários atrasados e assinou um acordo com o Sindisaúde. Além do atraso nos salários, o instituto deve depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) dos trabalhadores e há irregularidades no pagamento de férias, alega o sindicato.
- Temos colegas sem dinheiro para passagem, para gasolina, para as compras do mês. É um monte de situações que estão nos fazendo passar. O pessoal está muito abalado. Nós lidamos com vidas: temos que ter nosso psicológico bom para poder atender. Os pacientes não têm culpa de nada - desabafa Simone Podlasinski, técnica de enfermagem do IC e que esteve à frente da mobilização dos funcionários.
Relevância
A preocupação não é apenas da administração e de funcionários: o Instituto de Cardiologia foi o responsável por quatro em cada 10 cirurgias cardíacas feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em 2022, no Estado. Esse número coloca o IC como um dos principais centros de referência na área no RS. Também é pelo SUS a maior parte dos atendimentos no local: 70% dos acolhimentos. Outros 17% são pacientes do IPE Saúde e o restante tem origem nos convênios particulares.
O custo mensal do centro varia entre R$ 16 milhões e R$ 18 milhões, e é superior ao que a instituição recebe do poder público e de convênios: o IPE destina, em média, R$ 1,6 milhão por mês ao IC, já a prefeitura de Porto Alegre - gestora dos valores do SUS na Capital - repassa por volta de R$ 5,7 milhões mensais. A quantidade insuficiente de recursos faz o déficit operacional chegar a R$ 5 milhões no mês, conforme Jorge Auzani, cardiologista e diretor-tesoureiro da instituição.
Empecilho
Auzani comenta que a verba federal repassada para o custeio dos procedimentos baseada na tabela do SUS é o principal empecilho para a saúde financeira do hospital.
- Recebemos R$ 60 para cada R$ 100 que gastamos para atender um paciente do SUS. Houve um tempo em que as órteses e próteses, marca-passos, stents, davam margem (lucro) para o hospital, o que acabava compensando o déficit nas outras áreas. Agora, isso causa um déficit operacional - explica.
Esse contexto, segundo Auzani, ocorre por conta da portaria 3.693 do Ministério da Saúde, de dezembro de 2021, que entrou em vigor em junho de 2022. A norma federal alterou os repasses para o pagamento de órteses, próteses e materiais especiais utilizados em procedimentos cirúrgicos cardiológicos. Somado a isso, por conta da demanda de pacientes, a direção alega que o hospital faz mais atendimentos do que a quantidade acordada com gestores públicos, o que também aumenta o prejuízo financeiro.
- Isso acontece sistematicamente, ou seja, no final do mês ou do trimestre, nós não recebemos por tudo. Desde outubro do ano passado começamos a operar no vermelho, e a crise foi se agravando - completa Auzani.
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