31 DE JULHO DE 2023
OPINIÃO DA RBS
A riqueza da terra
Enquanto o mundo vive dias adversos sob o impacto das mudanças climáticas, discutem-se cada vez mais formas de promover o desenvolvimento abandonando o conceito antigo de que o progresso produz inevitáveis danos colaterais ao ambiente. É um debate que vai muito além de grandes questões como a substituição de combustíveis fósseis por energias renováveis. Passa, inclusive, por enxergar novas alternativas para regiões ou cidades afastadas dos grandes centros buscarem a prosperidade sem que isso signifique atrair investimentos portentosos ou modificar seus modos de vida. Pelo contrário, a grande riqueza pode estar na valorização de suas peculiaridades naturais e humanas.
Duas iniciativas exemplares com essa concepção foram apresentadas na reportagem "União pelo turismo e a preservação", assinada por Jhully Costa e publicada no caderno DOC da superedição de Zero Hora. Narra como o município de Caçapava do Sul e a região da Quarta Colônia, ambos na região central do Estado, tiveram sucesso em uma mobilização que, com universidades à frente, uniu poder público, empresários locais e a população para serem reconhecidos como geoparques mundiais pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Como define a própria Unesco, geoparques são "áreas geográficas unificadas, onde sítios e paisagens de relevância geológica internacional são administrados com base em um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável". É uma chancela de peso, que impulsiona as possibilidades de maior dinamismo econômico baseado em atividades que convivem de forma harmoniosa com a natureza e os traços culturais de sua população. Entram aí o ecoturismo e empreendimentos associados, como nas áreas de gastronomia e hospedagem, os traços históricos, a valorização de características naturais como a geologia, o relevo, a paisagem e as descobertas paleontológicas que contam uma parte do passado longínquo do planeta.
O Geoparque Quarta Colônia, que abrange nove municípios, tem aspectos únicos, como a grande riqueza de fósseis de alguns dos primeiros dinossauros que pisaram sobre a Terra, aliados à cultura dos imigrantes italianos. O Geoparque Caçapava tem como grande diferencial a diversidade de formações rochosas exuberantes e antiquíssimas, que há décadas atraem um grande número de geólogos e estudantes da área.
Mais recentemente, também despertou a atenção dos amantes de esportes de aventura. A cidade é a capital gaúcha da geodiversidade, com mais de 30 geossítios catalogados. O reconhecimento oficial da Unesco veio para ambos em maio. É recente. Há muito, portanto, a desenvolver. O reconhecimento da Unesco, com a atenção que desperta, pode impulsionar novos empreendimentos para oferecer melhor estrutura de recepção a visitantes. E gerar renda a partir de suas georriquezas.
O Brasil passou a ter cinco geoparques, sendo três no Rio Grande do Sul. O outro que fica no Estado, junto com Santa Catarina, é o Caminhos dos Cânions do Sul. Os demais são Seridó (RN) e Araripe (CE). No mundo, são 195, espalhados por 48 países. Mas há outros três no território gaúcho em busca da titulação: o Raízes de Pedra, também na Região Central, o Paisagem das Águas, no sul do Estado, e o do Vale do Rio Pardo. Espera-se que tenham sucesso e, junto a outros empreendimentos e parques vocacionados para o ecoturismo, consolidem o Rio Grande do Sul como um modelo de local onde a natureza preservada e explorada de forma racional é um ativo alternativo para o desenvolvimento econômico e social.
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