sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Jaime Cimenti

Gilberto Werner e a paixão pelo Moinhos

O Moinhos de Vento é um dos bairros mais antigos e importantes de Porto Alegre. Muitos o consideram o mais charmoso e, atualmente, o metro quadrado de suas construções segue como um dos mais caros  da Capital. Unindo passado e presente, prédios residenciais e comerciais, mas sempre de olho no futuro, o Moinhos é um patrimônio de todos.

Moinhos de Vento – Memória e Reconhecimento (Edição do Autor, 126 páginas, com patrocínio da Goldsztein Patrimonial), do pesquisador e escritor Gilberto Domingues Werner, nascido e criado no bairro, traz dezenas de belas fotos em cores e em preto e branco da região, cedidas pela Fototeca Sioma Breitman, pelo Acervo Laudelino Medeiros e por Neila Sanches.

As imagens permitem visualizar como era o Moinhos e como ele se apresenta nos dias de hoje. A beleza das áreas verdes e das construções, em especial os prédios da Hidráulica, de inspiração francesa, está bem retratada no livro, que certamente serve e servirá de apoio a estudantes, pesquisadores e leitores em geral.

A obra conta, também, com textos do autor, de Antoine de Saint Exupéry, Dante de Laytano, Sérgio Goldsztein e Mario Rozano, entre outros. Luiz Fernando Coufal, morador símbolo do bairro, um dos fundadores da lendária Confraria Listo da Padre Chagas e até hoje residindo nele, muito colaborou com o autor, assim como os demais integrantes da histórica confraria: Sérgio Mariante, Paulo Silveira Martins e Marcelo Coufal, entre outros.

História, Chácara Mostardeiro, hipódromos, hidráulica, hospital alemão, baixada tricolor, Praça Júlio de Castilhos, Colégio Bom Conselho, Parcão, Associação Leopoldina Juvenil, Caixeiros Viajantes, Sociedade Germânia, rua 24 de outubro, Independência, Florêncio Ygartua e Sociedade Filantrópica Suíça estão no volume, que, diga-se, foi fruto da paixão e do amor que Gilberto Werner tem pelo Moinhos.

Os gremistas vão adorar as várias páginas dedicadas à Baixada Tricolor, primeiro imóvel que o time adquiriu. Ocupado em 1904 e escriturado definitivamente em 1911, foi o primeiro campo do Grêmio e onde ele comemorou seu cinquentenário, em 1953. O local foi palco de muitas glórias, que a família tricolor certamente gostará de lembrar e relembrar.

Também emociona a todos a história do Parcão, área desapropriada pelo prefeito Loureiro da Silva em 1962 e denominada Parque Moinhos de Vento pelo prefeito Telmo Thompson Flores em 1972. No local existia o Hipódromo do Moinhos de Vento. O último páreo foi em 15 de novembro de 1959, com vitória da égua Ouro Selva, do stud Ouronegro, de propriedade do sr. Arthur Germano Schiell, conceituado “turfman”. O Parcão, hoje, é dos nossos espaços mais simpáticos, saudáveis, elegantes e inspiradores. Ali marcham, trotam e galopam os cavalos da memória. Ali estão nossas memórias afetivas, os prazeres do presente e os tesouros do futuro.

O livro de Gilberto Werner permanecerá como registro histórico e amoroso do lugar onde ele viu pela primeira vez a luz do sol. Os leitores vão sentir isso, com certeza.

A propósito...

Bem que a prefeitura municipal de Porto Alegre poderia estabelecer uma política diferente em relação aos prédios listados como patrimônio histórico no Moinhos de Vento.

Simplesmente listar e nada oferecer ou propor aos proprietários não é justo nem razoável. Melhor seria tombar ou não, ao invés de só listar e nada dar em troca. Melhor estabelecer uma legislação adequada e dialogar com os donos das casas, no sentido de que eles possam utilizar imóveis tombados ou não.

Já é tempo de pensar nisso, para, paralelamente, preservar o patrimônio cultural e desenvolver o bairro. É o que se faz, com sucesso, no exterior.


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