Jaime Cimenti
Petrarca, o modelo da poesia
lírica
REPRODUÇÃO/JC
Este ano já começa com um desses lançamentos de peso:
Cancioneiro, do gênio renascentista italiano Francesco Petrarca, com primorosa
tradução do professor e escritor José Clemente Pozenato, autor do clássico
romance O quatrilho. Pozenato também assina uma introdução em que relata a vida
e a obra do poeta.
A
bela edição em capa dura (Ateliê Editorial e Editora da Unicamp, 534 páginas)
conta com prefácio do professor, tradutor e poeta Armindo Trevisan, ilustrações
de Ênio Squeff e centenas de utilíssimas notas de rodapé. A cuidadosa edição
nasce já clássica e referencial e permite aos leitores brasileiros entrar em
contato direto com uma das obras seminais da poesia universal.
Esta
obra-prima da literatura universal foi concluída por volta de 1370 e logo se
colocou como o principal modelo de poesia lírico-amorosa no Ocidente. Sua
primeira edição impressa data de 1470. Nos 30 anos seguintes, houve dez edições
da obra, com diferentes títulos.
Nela,
o poeta nascido em Arezzo em 1304 abriu caminho para uma poesia do sentimento
num jogo emocionante com a razão, com uma nova linguagem que há de solene, de
quase escultural em Dante torna-se variado, por vezes esvoaçante, em Petrarca.
A sorte favoreceu mais Dante, mas o fato é que Petrarca deixou marcas mais
fundas na poesia do Ocidente, que perduram até hoje.
O
tema central dos 366 poemas - são 117 sonetos, 29 canções, 9 sextinas, 7
baladas e 4 madrigais -, é o amor em vida e depois da morte de Laura. Mas há
também poemas que nos situam no cotidiano do poeta, como o da velhinha, de
manhã bem cedo, rodando seu tear. No grande poema não há personagens ou enredo.
O que avulta é a grande aventura sentimental e poética de Petrarca.
Logo
no início da apresentação, Armindo Trevisan cita a monumental História da
Literatura Ocidental, de Otto Maria Carpeaux, que referiu que Petrarca era o
primeiro lírico moderno e o mais original de todos os poetas líricos da
literatura universal. Para Trevisan, Petrarca é o poeta que nunca morreu e que
merece uma revisitação, e que a gente o reencontre na poesia contemporânea.
Trevisan ressalta que Petrarca deve ser lido com novos olhos e, sobretudo, com
novos ouvidos.
Enfim,
a Ateliê Editorial e a Editora da Unicamp colocam nas mãos dos leitores
brasileiros esse patrimônio da poesia universal. A nova e criativa tradução,
que buscou a coloquialidade perseguida por Petrarca e que utiliza rimas
“modernas”, torna Petrarca contemporâneo e vem acompanhada, adequadamente, das
ilustrações que reconstroem uma visão do ambiente da poesia petrarquiana.
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