terça-feira, 24 de junho de 2014


24 de junho de 2014 | N° 17839
LUIZ PAULO VASCONCELLOS

MINHAS MUSAS

Semana passada recebi um e-mail da leitora Virgínia Rosário, do Alegrete, que me deixou feliz e, ao mesmo tempo, preocupado. Feliz porque ela escreveu: “Se eu não fosse uma professora aposentada, trabalharia teu texto com minhas turmas do Ensino Médio. O resultado, certamente, seria uma bela pesquisa, um belo debate e a produção de belos textos”.

Algum colunista deste jornal pediria mais de um leitor? Não. Mas a preocupação veio no final, quando ela acrescentou: “Às meninas, eu lembraria que faltou uma heroína...”. Putz! E não é que ela tem razão? Pois, para redimir meu machismo involuntário, dedico a coluna de hoje a elas. Minhas musas.

Na política, Marina Silva. Apesar de se manifestar contra a descriminalização do aborto, contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a legalização da maconha – teses que alguns dos meus ídolos machos defendem – , ainda assim, Marina é a grande figura feminina da política de hoje. Ambientalista e historiadora, alfabetizou-se aos 16 anos, transitando entre uma palafita no seringal de Bagaço, no Acre, e o Senado, onde defendeu com rigor suas ideias sobre a preservação do meio ambiente.

Para Marina, política não é fazer concessões em nome da governabilidade, mas possuir ideias próprias e não abrir mão delas, mesmo que à custa de cargos e salários generosos. Razão pela qual se afastou do PT e do PV e, não conseguindo aprovação para a criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade, filiou-se ao PSB e hoje concorre à vice-presidência da república.

No plano das artes, fico com duas: Eva Sopher e Barbara Heliodora. De família judia, dona Eva emigrou da Alemanha para o Brasil em 1936, aos 13 anos, para escapar do nazismo. Morou no Rio de Janeiro e, a partir de 1960, em Porto Alegre, onde reativou a Pró-Arte e salvou o Theatro São Pedro dos cupins e da inércia da burocracia. Até hoje, aos 90 anos de idade, administra o teatro com afetuosa mão de ferro, o que fez do São Pedro um referencial das artes cênicas no país.

A Barbara Heliodora, outra jovem nonagenária ainda em plena atividade intelectual, devemos a criação dos cursos de teatro a nível universitário, isso no final dos anos 1960, durante a ditadura militar. Professora, ensaísta, tradutora da obra de Shakespeare, Barbara foi a crítica mais respeitada (e odiada) da imprensa brasileira.


Ah, pensavam que eu ia falar da Anitta, né?

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