24
de junho de 2014 | N° 17839
DAVID
COIMBRA
GOLEADA
PREOCUPANTE
Não
venha cantando aquela musiquinha enjoativa propagandeando que você é brasileiro
com muito orgulho, com muito amor. Não. A goleada sobre Camarões é enganosa.
Esse Camarões é um dos piores times da Copa, senão o pior. Dias atrás, levou 4 a 0 da Croácia, e poderia ter levado 6.
Do
Brasil também poderia ter levado 6? Ah, sim, poderia, mas poderia igualmente
ter feito pelo menos mais um.
Camarões
dá espaços para os adversários e, quando ataca, o faz irresponsavelmente, sem
cuidar de quem fica atrás. Pior: os camaroneses não têm nem a força e a
velocidade dos de Gana.
Ontem,
enfrentando a Seleção, dentro do Brasil, o time de Camarões mostrou como joga
sem a menor preocupação com o futuro próximo, aquele que chegará depois de uma
hora e meia de partida. Ninguém, nem mesmo Neymar, foi objeto de uma marcação
mais atenta. Deu no que deu.
Mas
foi uma goleada... preocupante. Oscar, se você colocar o Batatinha a vigiá-lo,
Oscar some do jogo. Hulk começou agressivo como ponta-direita, mas depois virou
o Bruce Banner e não assustou mais ninguém. Daniel Alves é o mais fraco do
time. Já disse: Pará deveria ter sido convocado em seu lugar. Marcelo aparece
muito com todo aquele cabelo, mas produz pouco. O goleiro ainda não foi
testado; tenho medo de quando for.
Os
dois zagueiros são bons, Thiago Silva bem melhor; David Luiz é becão de
colônia, rebatedor, malvado – funciona. Os dois volantes são regulares. Sobra
Neymar, esse, sim, jogador de Seleção. Mas aquele seu jeitinho levemente
arrogante de não cumprimentar o jogador africano que pediu desculpas, aquele
exibicionismo de cabelo pintado, aquela manha de sair de campo gingando, aquilo
não é da seriedade de uma Copa.
Talvez
eu esteja sendo muito exigente com a Seleção Brasileira classificadíssima como
está, primeira do grupo e tudo mais. Talvez. Mas os chilenos vêm aí, e vêm com
um time bem ajustado, com Vargas e Aránguiz, que todos conhecemos, e um número
7 perigoso chamado Aléxis Sánchez. Cuidado com esse 7. Cuidado. E eu não sairia
por aí entoando que sou brasileiro, com muito orgulho...
O
futebol é coisa velha de mais de cem anos. As mudanças no jogo são lentas e, em
geral, só acontecem do campo para fora. Entre uma goleira e outra dão-se poucas
variações. Os grandes do tempo da II Guerra continuam os mesmos, e os pequenos
custam a se afirmar.
No
futebol, não há mobilidade de classes.
Os
grandes clubes do Brasil são os mesmos 12 de sempre. As grandes seleções do
mundo são quatro, mais quatro. Não oito: quatro e depois quatro.
Bem.
Por
certo tempo, o futebol africano pareceu se insinuar que renovaria o futebol,
com seus jogadores altos, fortes, velozes e habilidosos. O que lhes faltaria?
Talvez um pouco de malícia que iam adquirir jogando na Europa ou sendo
treinados por técnicos estrangeiros. Certo. Eles estão na Europa, e há um
punhado de técnicos estrangeiros na África. Mas os africanos não evoluem.
No
vibrante jogo com a Alemanha, domingo passado, um zagueiro de Gana tentou dar
um chapéu num atacante alemão dentro da sua área de defesa, aos 45 do segundo
tempo. É claro que perdeu a bola. A Alemanha só não marcou o terceiro gol por
minúcia. Esse tipo de temeridade, por favor, nem no Ararigboia. Imagina na
Copa.
Ontem,
Camarões enfrentou a Seleção Brasileira com uma leveza de time amador e uma
irresponsabilidade surpreendente. Aquele jogador que empurrou Neymar atrás do
gol, será que ele não percebeu que só não foi expulso porque o juiz não
acreditou que alguém tivesse tamanho desplante numa Copa do Mundo? Pois ele
teve. Camarões piorou em relação a si próprio. Os africanos, todos, parecem ter
dado um passo atrás.
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