sábado, 14 de junho de 2014


15 de junho de 2014 | N° 17829
CÓDIGO DAVID | David Coimbra

O ataque do esquilo assassino

Tem muito esquilo por aqui. Estou em Boston, Massachussetts. Gosto desse nome, Massachussetts. É um nome que substitui o bafômetro. Experimente pronunciá-lo depois de uma noitada de chopes cremosos. Se você conseguir, pode pegar o carro. Se não passar do “Massa”, chame o táxi.

Pois em Massa... chussetts tem muito esquilo. Sabia da popularidade do esquilo nos EUA, mas não esperava encontrá-los com tanta frequência. Encantei-me com o primeiro que vi. Quis tirar foto, mas ele foi mais rápido, subiu pela árvore e despareceu. Esquilo é rápido. Depois, comecei a ver esquilo a toda hora, não achei mais graça.

Outro dia, caminhava por uma avenida movimentada e um esquilo veio correndo na minha direção. Mas veio mesmo, firme, decidido, direto para mim. Estaquei. Qual seria a intenção daquele esquilo? Atacar? Esquilos atacam? Pensei no Tico e no Teco. Esses não atacam. São inofensivos, só querem saber das suas nozes e de encher o saco do Donald. Mas aquele esquilo, não. Era agressivo, definitivamente.

Vinha disparado, muito veloz, balançando seu rabo de escova de patente. Pensei: vou chutá-lo, rato maldito, não deixarei que você suba pelas minhas pernas e crave estes seus dentões de Drácula no meu pescoço! Estava pronto para reagir, mas, a um passo de distância, ele desviou para a esquerda e perdeu-se num jardim. Suspirei de alívio. Só o que faltava eu entrar em luta corporal com um esquilo nos EUA. Não seria uma boa. Os americanos decerto ficariam do lado do esquilo. Esquilo x brasileiro? Esquilo, esquilo.

JOÃOZINHO PROFUNDO

Esquilo em inglês é squirrel. Dificílimo de dizer. “Squaill”. Eu, pelo menos, não consigo. É como world ou girl. Tranco quando falo. De resto, considero bela a língua inglesa. Normal que se mescle com outras. Até entendo nossos compatriotas puristas, defensores da última flor do Lácio, inculta e bela, mas como chamar o mouse do computador de “rato”, por exemplo? Não dá. Por isso, não culpo quem substitui tele-entrega por delivery e passarela por catwalk. Catwalk não é demais? Um lugar por onde andam as gatas...

Quer ver? O nome daquele ator, Johnny Depp. Sempre achei que fosse Deep. Em português, seria Joãozinho Profundo. Será que as mulheres gostavam tanto dele por causa dessa profundidade? Em português seria um nome ridículo, Joãozinho Profundo, mas em inglês... Aí tem! Teci inúmeras teorias. Agora descobri que é Depp, que significa, apenas, Depp. Uma letra mudou tudo. Johnny perdeu o encanto para mim.

LUVAS BRANCAS

Mas ainda que o inglês seja cheio de sutilezas e fascínios, é um exagero brasileiro isso de querer que todos falem inglês por causa da Copa. Os 4 mil taxistas de Porto Alegre tinham de falar inglês? Bobagem. Precisa apenas que quatro ou cinco atendentes do rádio-táxi tenham o domínio da língua.

No Japão, tomei um daqueles táxis limpíssimos, o motorista de luvas brancas e tudo mais. Disse para onde queria ir e ele me olhou com a maior cara de sashimi de salmão. Natural, a maioria dos japoneses não fala inglês. Mas ele não se assustou. Pegou o rádio, falou com a atendente e passou o rádio para mim. Disse o endereço para a moça, devolvi o rádio para ele, a moça traduziu e fomos embora. Cheguei direitinho.

A mesma coisa os restaurantes. Os garçons não precisam falar inglês. Basta ter um menu bilíngue, o gringo escolhe o que quiser e aponta com o dedo. Para pedir a conta, faz aquele gesto clássico com a mão. Para ir ao banheiro, é só olhar o bigode desenhado na porta dos homens, o batom desenhado na porta das mulheres e entrar. Do que mais precisa um turista além de se deslocar e comer? Namorar? Bem, a língua do amor é universal.

SEXO COM GOLFINHOS

A BBC apresentou um documentário sobre uma mulher que, em 1960, passou 10 meses em um aquário, tentando ensinar um golfinho a falar inglês. É sério isso. A tal casa-aquário ficava nas Ilhas Virgens, que são dos EUA. O golfinho se chamava Peter e ela, Margareth. Ele não aprendeu inglês, mas acabou FAZENDO SEXO COM A PROFESSORA.

Será que ainda existem cursos de inglês assim por aqui? Moral da história: se um golfinho se deu bem, por que não um nigeriano ou um holandês desses que chegarão a Porto Alegre sem falar lhufas de português?

O VELHO GRAMPEADOR

Que bela invenção esse Skype. Serve de analgésico para a saudade. Evita de o cara querer beber para esquecer. Os espanhóis, quando se embrenharam nas Américas em busca de ouro, ouro, ouro, sofriam de saudade de suas famílias e amigos, e o que faziam? Enchiam a cara. No outro dia, continuavam com saudade, só que estavam com ressaca também. Descobriram então que os índios conheciam uma beberagem que diminuía os efeitos da ressaca e clareava as ideias. Foi assim que surgiu o nosso bravo chimarrão.

Já eu, como tenho Skype, posso ver meu filho todos os dias, que ele ainda não veio para cá (virá!). Ele fala comigo da mesa em que eu trabalhava. Esses dias, para me fazer um agrado, pegou o grampeador, levou-o para frente da câmera e disse:

– Papai, tu deve estar com saudade do teu velho grampeador. Olha pra ele.


Matei a saudade do meu velho grampeador num instante. Mas a do meu filho aumentou. Fui beber como um espanhol.

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