16
de junho de 2014 | N° 17830
NÍLSON
SOUZA
Apenas humanos
Os
árbitros são os protagonistas deste início
de Copa do Mundo . Por ironia da
deusa tecnologia, os julgadores sumários também passaram a ser julgados
instantaneamente por um público
estimado pela Fifa em 3 bilhões e 200 milhões de pessoas (metade da
população mundial) que recebem as
imagens da competição em 211 países, feitas por dezenas de câmeras de alta
definição. Tudo foi pensado para que nada escape ao olhar eletrônico – mas as
emoções escapam.
O
excelente comercial da Nike , O Último
Jogo, evidencia este aspecto mágico do futebol. Craques da atualidade superados
por jogadores robôs, que não erram nunca, são resgatados do ostracismo por um
Ronaldo magro e inconformado com a perda do encanto do esporte que ele praticou
com maestria. O cientista que criou as máquinas ridiculariza Neymar, David Luiz, Cristiano
Ronaldo, Rooney, Ribery e Ibrahimovic, entre outros, dizendo que eles são
“apenas humanos”. Então, marca-se a batalha final entre humanos e robôs,
aqueles que arriscam contra aqueles que foram construídos para não falhar.
Não
vou contar o final, mas posso informar que a emoção vence.
Os
árbitros da Copa apitam com um reloginho de pulso capaz de informar
automaticamente se a bola cruzou a linha de gol . O mecanismo chamado GoalControl é um ponto
a favor dos robôs. Mas as múltiplas câmeras focadas em cada jogada não
conseguem dizer com precisão ao juiz, nem aos milhões de espectadores, se o to
que de mão na bola foi intenção do jogador ou da própria bola, que às vezes tem
vontade própria. Também não informam de maneira confiável se um jogador foi derrubado
na área pelo adversário ou se caiu por vontade própria, aproveitando-se do
inevitável contato físico.
Portanto,
o que o juiz de futebol tem que julgar, em segundos, é o pensamento alheio. Ele
não registra apenas o que vê ou o que as câmeras veem melhor do que todos.
Antes de apitar, ele tem que avaliar se houve infração de alguma das 17 regras
e se o possível infrator agiu de má-fé, se foi desastrado ou se o adversário é
que fingiu. O árbitro, com todo o respeito às religiões, é uma espécie de magistrado do Juízo
Final, aquele que julga as boas e as más intenções. Muito mais estas do
que aquelas, já que o futebol é também um jogo de logros e encenações.
Não
fosse assim, seria um jogo de robôs – sem erros e sem graça.
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