quinta-feira, 19 de junho de 2014


19 de junho de 2014 | N° 17833
EDITORIAL ZH

INCENTIVO NA HORA CERTA

As medidas definidas pelo governo são bem-vindas, no contexto de baixo crescimento, mas insuficientes para corrigir os danos dos atrasos estruturais.

O setor produtivo espera que o conjunto de medidas anunciadas ontem pelo governo seja o primeiro sinal de que o Executivo saiu da inércia, diante da repetição de indicadores preocupantes da economia. Há o atendimento parcial de apelos dos empresários, num momento em que se evidencia, por pesquisas de amostragem, queda de confiança e, por consequência, de investimentos.

Os novos suportes definidos pelo Planalto contemplam mecanismos como o Reintegra, de apoio aos exportadores, a manutenção do Programa de Sustentação de Investimento, com financiamentos subsidiados via BNDES, e a isenção de Imposto de Renda sobre ganhos de capital para quem compra ações de pequenas e médias empresas.

São respostas a algumas das demandas de quem produz e ainda não vislumbra mudanças profundas num cenário que prenuncia, até agora, crescimento do PIB de apenas 1,24% neste ano. O governo reagiu a pressões que se acumulam na mesma proporção das notícias desfavoráveis aos investimentos. A inflação continua num patamar acima do considerado razoável pela população e pelas projeções do próprio governo, as exportações deste ano caíram em relação às do ano passado no mesmo período e a confiança dos industriais encontra-se no mais baixo nível dos últimos quatro anos.

A contrapartida positiva é dada pela manutenção dos bons níveis de emprego, com a ressalva de que também essa conquista corre riscos, se a política econômica continuar dependente do fortalecimento do mercado interno. Como informou recentemente a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), há indícios de que a aceleração dos preços esgotou a capacidade de consumo e de endividamento de parcela da população que ascendeu socialmente.

No ano passado, o PIB brasileiro evoluiu apenas 2,3%, depois do pífio crescimento de 1% de 2012. É muito pouco para um país que, em relação à média mundial, vem perdendo oportunidades de recuperação, depois da crise de 2008. Tanto que a economia mundial deve crescer 3,5% neste ano, três vezes o que se prevê para o Brasil. Está certa a OCDE quando adverte que o país cresce muito abaixo do seu potencial. Conspiram contra uma melhor performance fatores estruturais que sucessivos governos se negam a enfrentar, com a conivência do Congresso.


As medidas anunciadas ontem são bem-vindas, no contexto de baixo crescimento, mas insuficientes para corrigir danos provocados por um sistema tributário obsoleto, pela degradação da infraestrutura e pela burocracia estatal. Em quatro anos, por conta dessas deficiências, caímos do 38º para o 54º lugar num ranking mundial de competitividade da Fundação Dom Cabral. Esta é a realidade que exige ações bem mais vigorosas e duradouras do que as contidas em pacotes emergenciais.

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