14
de junho de 2014 | N° 17828
CLAUDIA
LAITANO
Árvores e
alfaces
A
decisão de mudar a dieta está para os indivíduos assim como a redução da
emissão de gás carbônico na atmosfera está para a nossa espécie. Comer melhor
para proteger a saúde e mudar nosso estilo de vida para proteger o planeta
exigem não apenas a disciplina e o empenho para abrir mão de prazeres e
confortos do presente em nome de benefícios futuros, mas conhecimento e análise
de informações muitas vezes complexas demais para a maioria de nós.
Claro
que ninguém precisa ler revistas científicas para saber que verduras fazem bem
e que árvores não deveriam ser derrubadas impunemente, mas a partir de um
determinado ponto os leigos se sentem como um bronco convidado para um jantar
de gala: inocente e acuado. Se o ensinarem a não descansar os cotovelos sobre a
mesa ou a usar os talheres corretamente, vai obedecer mesmo sem entender muito
bem de onde vem a regra e por que ela foi inventada – da mesma forma que
colocaria o guardanapo sobre a cabeça e a faca embaixo da cadeira se sugerissem
com a devida ênfase.
Esta
semana, a revista Time publicou uma histórica reportagem de capa absolvendo a
manteiga do estigma de vilã do colesterol, garantindo que um dos alimentos mais
condenados por médicos e nutricionistas (e mais adorados pelo resto da
humanidade) pode enfim voltar para o lugar de onde nunca deveria ter saído, a
mesa – mais ou menos como aconteceu com o ovo alguns anos atrás. Esse vaivém de
pesquisas e a proliferação dos “aponta estudo” – sérios ou nem tanto – acabam
criando a desconfortável sensação de que não sabemos o suficiente sobre o que
nos faz bem ou mal sequer para dar a partida no café da manhã.
Já
as pesquisas a respeito do meio ambiente parecem caminhar no sentido inverso.
As opiniões a respeito da responsabilidade humana no aquecimento global são
cada vez mais convergentes na comunidade científica. Os “céticos” formam uma
minoria cada vez menos relevante em um debate que tem assumido um tom
crescentemente nervoso nos últimos tempos: a mudança climática já não é mais
algo a se prevenir, mas uma realidade com a qual já estamos convivendo.
Sim,
é muito mais fácil encher o prato de alface do que trocar o automóvel por uma
bicicleta ou tomar atitudes concretas para consumir menos e melhor – da roupa
que usamos às embalagens inúteis que despejamos no carrinho do supermercado.
Enquanto uma dieta melhor apresenta resultados rápidos e visíveis, cuidar da
natureza parece um trabalho inglório: não importa o quanto você se esforce,
qualquer gesto sempre parece uma gota no oceano, e sentir-se uma gota no oceano
é o primeiro passo para não fazer nada.
Mas
há esperanças. Em menos de 50 anos, cientistas conseguiram convencer boa parte
da humanidade de que o cigarro fazia mal e deveria ser combatido com energia.
Muita gente perdeu dinheiro, muita gente superou o vício e muitos países em que
quase nenhuma lei funciona conseguiram banir o cigarro de lugares públicos e da
publicidade. Ou seja: não é impossível mudar hábitos, por mais arraigados que
sejam, mas é preciso começar. E logo.
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