quinta-feira, 12 de junho de 2014


12 de junho de 2014 | N° 17826
EDITORIAL ZH

PARA A HISTÓRIA

Neste momento em que a História entra em campo, os brasileiros têm o dever do protagonismo, como torcedores, como anfitriões civilizados e hospitaleiros, mas também como cidadãos conscientes.

O Brasil inaugura nesta quinta-feira o 20º Campeonato Mundial de Futebol da Fifa, oferecendo ao mundo uma visão paralela de sua cultura, de sua arte, de sua música, de seu esforço para organizar a megacompetição e para receber bem os visitantes, mas também de sua realidade e de seus contrastes. Não ficou tudo perfeito, as obras atrasaram, uma parcela expressiva da população ainda não se conformou com os gastos públicos na preparação da Copa, comparando-os com as car   ências históricas dos serviços básicos. Além disso, a proximidade entre a festa esportiva e as eleições acrescenta um viés político na avaliação dos brasileiros.

Mas agora o futebol se impõe. A competição começa hoje e vai para a História como a segunda Copa brasileira, uma oportunidade para o país mostrar sua força no esporte mais popular do planeta e também para provar que é capaz de realizar grandes empreendimentos.

É um momento singular para a nação. O país ainda vive os sobressaltos da grande manifestação popular que eclodiu em junho do ano passado, levando às ruas pessoas que pareciam conformadas com os desmandos e com a corrupção. Embora o movimento tenha arrefecido, muito por conta da violência praticada por grupos marginais, ficou uma nova consciência de cidadania e de participação, que pode ser percebida nos movimentos sociais sérios e nas greves justas – embora também tenha gerado situações condenáveis de oportunismo por parte de corporações que não hesitam em fazer a população refém de suas causas. Em meio a essa efervescência democrática, o Brasil chega ao dia de abertura da Copa.

Pelo lado futebolístico, é também uma chance de reescrever a História, já que o jogo final está programado para o Maracanã, palco da decisão de 1950, em que o Uruguai frustrou a expectativa de milhões de brasileiros. Mas este é o lado da paixão, do imprevisto, do risco, principalmente se considerarmos que os adversários são fortes e que todos têm como propósito impedir que o Brasil, que já detém a maioria dos títulos mundiais, se torne hexacampeão.

Mas uma Copa do Mundo não é apenas competição. O lado social talvez seja mais importante. Este é, igualmente, um momento de congraçamento entre povos, um pretexto para a superação de diferenças e divergências, uma chance para a paz, para a diplomacia e para o entendimento. Veja-se, por exemplo, a bela iniciativa adotada por Brasil e Argentina, históricos rivais, de iluminar seus principais monumentos com as cores adversárias.

Na noite de terça-feira, o Cristo Redentor vestiu as cores azul e branco, enquanto o Obelisco de Buenos Aires ficou verde e amarelo. Espera-se que a emblemática manifestação contagie os torcedores de todas as seleções, para que a disputa se restrinja às quatro linhas do campo de jogo.

Talvez não seja a Copa das Copas, como ufanisticamente projetou a presidente Dilma Rousseff antes de cair na realidade melhor manifestada em seu pronunciamento da última terça-feira, quando pediu aos brasileiros para que o Mundial seja uma Copa pela paz e contra o racismo; uma Copa pela inclusão e contra todas as formas de violência e preconceito; uma Copa da tolerância, da diversidade, do diálogo    e do entendimento. Na mesma ocasião, porém, a presidente se comprometeu com uma auditoria rigorosa dos gastos e garantiu que qualquer irregularidade apurada será exemplarmente punida.

Então, neste momento em que a História entra em campo, sem qualquer possibilidade de retrocesso, os brasileiros têm o dever do protagonismo, como anfitriões civilizados e hospitaleiros, como torcedores apaixonados ou sensatos, como partícipes de um grande acontecimento, mas também como cidadãos conscientes, para continuar vivendo e trabalhando no país que ficará para eles depois da Copa.


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