11
de junho de 2014 | N° 17825
MARTHA
MEDEIROS
O fascínio chamado amor
O
jogo do amor, nesta véspera de Dia dos Namorados, está sofrendo uma
concorrência indecorosa. Só se fala em futebol. A pipoca promete desbancar os
bombons, a cerveja promete vencer os cálices de vinho, e beijo, alguém falou em
beijo? Só se for para comemorar vitórias em campo. Não é hora de romantismo, e
sim de patriotismo.
Suspiro.
Nesse clima (ainda que insosso) de torcida organizada, de nação reunida, de
milhões em ação, fica difícil dedicar o tema da coluna apenas para dois: um
par.
Mas
é o que me propus, desde que li, dia desses (acho que no livro Doralina, de
Luiz Horácio), uma frase que me fez pensar: “Amar é encontrar aquilo que não se
procura”. E subitamente lembrei daqueles que se produzem no sábado à noite para
sair em busca de paquera, de quem se vale do aplicativo Tinder na esperança de
achar sua cara-metade, de quem se matricula em todos os cursos prevendo que
dali será pinçado um candidato a marido ou a esposa, de quem pede aos amigos
para que lhe apresentem solteiros e solteiras à disposição, lembrei de todas as
artimanhas justas e válidas para que a pessoa se recoloque no mercado amoroso,
numa ânsia também justa e válida de preencher seu vazio emocional – só que o
justo e o válido não são mágicos.
Aquilo
que vem por encomenda, atendendo a pedidos, pode, claro, satisfazer plenamente
seu desejo. Quer casa, comida e roupa lavada? Tem quem ofereça. Quer companhia
para o cinema? Aos montes. Quer sexo e nada mais? Comece a distribuir senha. Se
você está consciente do que procura, encontrará alguém que se encaixe no seu
ideal de relacionamento. Funciona mais ou menos como uma entrevista de emprego.
Justo
e válido.
Porém,
amar é encontrar aquilo que não se procura. Aquilo que surge sem explicação,
que não tem lógica, e contra o que não adianta lutar: nenhuma resistência é
suficiente. Amar é puro fascínio. Você cruza com uma pessoa que talvez nem
equalize com seus sonhos, mas é com ela que se deu o click, o curto-circuito,
que algo foi despertado.
A
mágica está no que não veio por encomenda, nem atendendo a pedidos, nem no
momento certo, nem mesmo pegou você de banho tomado – é um flechaço do Cupido,
que às vezes é ruim de mira, mas ao menos tem boa intenção. Ou, se não for a
hora de falar em Cupido, mas em Neymar, Fred, Hulk e Jô, pode-se dizer que a
mágica é um potente chute de fora da área no qual ninguém acreditou, mas a bola
entrou assim mesmo. Gol.
Aos
namorados de amanhã, grudem-se. Façam essa mágica durar.
Aos
solitários de amanhã, torçam – mas pela Seleção, não por si mesmos. Esqueçam um
pouco de si mesmos. Permitam-se parar de querer, de procurar, de se preocupar.
Sem planos e sem ânsia, aguardem calmamente a chegada do que nunca pediram.
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