quarta-feira, 11 de junho de 2014


11 de junho de 2014 | N° 17825
VERISSIMO NA COPA

OS CABELOS

Da série “Eu sou do tempo em que...”

Eu sou do tempo em que para tirar fotos os times posavam com a “defesa” perfilada atrás e o “ataque” na frente de cócoras, em vez de apenas inclinado, como se não pudesse esperar para sair jogando, como acontece hoje.

Eu sou do tempo em que se fazia “tabelinha”, a invasão da área adversária por uma dupla de atacantes trocando passes rápidos e sucessivos, desconcertando a defesa. Quem fazia isso melhor do que ninguém era a dupla Pelé e Coutinho, no Santos. No Internacional dos anos 50, Larri e Bodinho. Hoje, com a entrada da grande área congestionada, não há mais espaço para tabelinhas. Saudações sentidas para uma arte desaparecida.

Eu sou do tempo em que goleiro sempre usava joelheira. Depois descobriram que joelheira prejudicava a circulação do sangue mais do que protegia os joelhos. As joelheiras também desapareceram nas brumas do passado.

Eu sou do tempo em que os jogadores usavam rede nos cabelos. Era para segurá-los no lugar, talvez para ajudar no cabeceio. É verdade: rede. A moda dos cabelos, pensando bem, foi o que mais mudou no futebol, um esporte eminentemente conservador, através dos anos. Nos anos 70, os homens usavam os cabelos pelos ombros, lembra?

De trás era difícil saber se era homem, mulher ou maestro. Jogadores negros tinham a cabeça enfiada em grandes colmeias desabitadas. Cabelos compridos ou afro combinavam com calças boca de sino. Olhar uma foto nossa daqueles anos, hoje, é um exercício de nostalgia, se você concordar que a nostalgia consiste em lembrar como fomos ridículos um dia.

No futebol, depois das cabeleiras veio a moda do cabelo rente, ou da cabeça pelada, estilo    Ronaldo. Hoje não existe um estilo dominante, mas os cabelos parecem que voltaram com força. O David Luiz tem uma juba esvoaçante.

O Marcelo tem uma horta mal cuidada na cabeça. O Willian também. O Neymar muda de estilo a cada jogo, variando do neobarroco à instalação pós-moderna. Nos outros times da Copa, também não há uma moda capilar uniforme, e vê-se de tudo. Tem até um americano que, aparentemente, não quis deixar sua marmota de estimação em casa e trouxe-a na cabeça.


Eu sou do tempo em que tudo isso seria muito estranho.

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