sábado, 28 de junho de 2014


28 de junho de 2014 | N° 17843
DAVID COIMBRA

DAVID COIMBRA VIVA A FIFA VIVA A FIFA

A Fifa é uma entidade cheia de problemas, que merece carradas de críticas. E, de fato, no Brasil, a Fifa foi muito criticada. Só que pelos motivos errados.

No Brasil, a Fifa foi criticada pelos seus méritos.

Você não se lembra, mas o futebol, até bem pouco tempo atrás, era o que no interior de Cachoeira do Sul se chama de “furdunço”. O torcedor era tratado como aquelas galinhas que passam a vida presas em gaiolas nos aviários. Houve jogos no Olímpico e no Beira-Rio com algo em torno de 100 mil pessoas em cada estádio, imagine (no Beira-Rio e no Olímpico cabe a metade disso). Os torcedores se empoleiravam uns em cima dos outros, os banheiros, pouquíssimos, eram imundos, os corredores de saída estreitíssimos. A tragédia estava sempre rondando os campos de futebol.

Muitos campeonatos não terminavam – iam para o que se chamava de “Tapetão”, termo que nem se usa mais. As fórmulas eram esdrúxulas. Um time era desclassificado numa fase, disputava uma repescagem e voltava na semifinal. Um Campeonato Brasileiro chegou a ter quase cem participantes, divididos em 10 chaves.

Hoje o futebol é organizado. Há padrões de tratamento do público, de respeito a contratos de jogadores, de uniformidade de arbitragem. Uma Copa é um exemplo de planejamento e eficiência. É o maior evento internacional do mundo, e sempre funciona bem. Estão envolvidas multidões de 32 países de todo o planeta, jornalistas, artistas, gente de culturas e comportamentos diversos, mas as coisas sempre saem à perfeição. Observe um jogo de Copa. As multidões se deslocam sem atropelo, entram com facilidade nos estádios, assistem a ótimos espetáculos e voltam para casa em segurança.

Graças à Fifa.

No geral, a Fifa fez bem ao futebol. E a Fifa não cometeu nenhum dos erros a ela atribuídos no Brasil. A Fifa não mandou que ninguém fosse despejado de sua casa, não mandou que a prefeitura de Porto Alegre tirasse o Mek Aurio do seu lugar histórico, não mandou que o governo estipulasse 12 sedes em vez de oito, não determinou que qualquer estádio fosse construído. A Fifa não mandou, não manda nem mandará no Brasil.

O que a Fifa fez foi entregar ao Brasil um caderno de encargos, já que o Brasil queria sediar a Copa. Entre os encargos não estão previstas desocupações, onerações de impostos ou gastos seja lá em que setor for. A Fifa não obriga ninguém a gastar em estádio o que era para ser gasto em hospitais. O Brasil tinha, apenas, de apresentar algumas condições básicas para sediar o torneio. Caso o Brasil não quisesse, outros países o sediariam com boa vontade. Mas o Brasil quis, ganhou e festejou a conquista.

Às vezes o Brasil parece um país habitado inteiramente por adolescentes, rebeldes pela rebeldia, contestadores do mundo adulto do qual não fazem parte.

Os podres da Fifa não estão localizados na organização da Copa, aí estão as qualidades da Fifa. Os podres da Fifa são mais sofisticados. O principal deles é que a Fifa criou uma rede de opressão ao principal protagonista do futebol, que não é o jogador, não: é o clube. Sem os clubes, o futebol não existe, e a Fifa escraviza os clubes com sua estrutura rígida montada a partir de confederações e federações.

Aí, nesse sistema tirânico da Fifa, reside toda a podridão. Mas não é este o meu assunto, por ora. Meu assunto é o que a Fifa faz de bom, e os brasileiros estão experimentando agora o que a Fifa faz de bom. A Copa do Mundo é um show de organização, competência e bom senso. Que o Brasil aproveite a Copa do Mundo. E aprenda com ela.

BRASIL TEM OBRIGAÇÃO DE BATER O CHILE HOJE

Todos nós sabemos que o Chile tem um bom time e tudo mais, mas é inconcebível o Brasil ser eliminado pelos chilenos nas oitavas de final de uma Copa em território brasileiro. Seria o maior fiasco da Seleção Brasileira em todos os tempos.

Portanto, não vou me ater aos perigos do Chile, no Aránguiz, no Vargas, no liso camisa 7 Sánchez. Não. Quem tem de se preocupar com isso é o Felipão e seus jogadores.


Só digo isso: o Brasil tem obrigação de vencer. Obrigação. Não me voltem para casa desclassificados.

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