sexta-feira, 20 de junho de 2014


20 de junho de 2014 | N° 17834
MOISÉS MENDES

Barbudos e holandeses

O mais interessante desta Copa não é a constatação de que o famoso camisa 10, que joga de cabeça erguida, ainda existe e faz a diferença. Ele existe e usa barba, como Sócrates, como Afonsinho. O italiano Pirlo é um dos barbudos que jogam como o antigo 10 e que se exibem agora no Brasil.

O camisa 10 pode até um dia desaparecer. Mas a barba voltou com força, como se vê na Copa. É o mesmo fenômeno que trouxe de volta o sapato de bico fino, o casaquinho justo e o tratamento que os jovens dispensam à mulher deles, como antigamente, e as chamam de esposa. É estranho, mas charmoso, um rapaz chamando a mulher de esposa.

Na moda, isso é o que chamam de vintage, ou retrô. Reaparecem nos períodos em que falta imaginação. Se não há o que criar, se deu aquele branco, recorre-se ao que já esteve na onda tempos atrás. Estar na onda é uma expressão retrô que talvez não esteja de novo na onda.

Os jogadores não voltaram com a barba rala nesta Copa, como já foi um clássico entre os italianos. Têm a barba farta, de lenhador americano. A barba parece não combinar com a camiseta baby look.

Até o Mick Jagger, bisavô, aos 70 anos, usa baby-look. Nele, até a camisetinha fica joia. Mas a virilidade de um jogador com a cara suja destoa um pouco da camisa apertada.

Enfim, anuncia-se que a moda da barba deve durar anos até a próxima Copa, quando pode voltar uma nova onda do cabelo black power, que brilhou no Mundial de 74 e tem alguns exemplares nesta Copa. Poderiam aproveitar e ressuscitar a camisa ban-lon.

Tanta coisa pode ser ressuscitada a cada Copa. O lançamento longo, como o Gerson fazia, já voltou, com o passe de 46 metros do holandês Blind para o gol de peixinho, de cabeça, de Van Persie contra a Espanha. Mas ainda falta o drible.

Outra coisa que poderia voltar é a discussão sobre a bola que bateu na linha do gol e ninguém sabe direito se entrou, nem a televisão. Era tradição nas Copas o debate sobre a tal bola que entrou-ou-não-entrou. A máquina eletrônica da Fifa, que esclarece tudo, acabou com a discussão no Beira-Rio. Só falta uma máquina terminar com as dúvidas sobre o impedimento.

Compreender um impedimento é a última sabedoria exclusivamente masculina. As mulheres sabem como funciona o Princípio de Pareto e o algoritmo, mas não entendem como se dá o impedimento.

Se acabarem com o debate do foi-não-foi do impedimento, nem precisa mais ter Copa. Imagine a chatice de ficar discutindo só as estruturas temporárias e as obras superfaturadas.


A cena mais bonita da Copa foi a do rolezinho daquele enxame de holandeses no viaduto da Borges. Um amigo me contou que a irmã dele entrou no rolezinho, seguiu os holandeses cantando, foi vista pela última vez na Fan Fest e não voltou mais para casa. Aquele rolezinho é de levar qualquer um para onde os holandeses quiserem. Os holandeses aperfeiçoaram suas invasões.

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