10
de junho de 2014 | N° 17824
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Olha o passarinho!
Grandes
homens em grandes momentos terão algo em comum: a braguilha aberta.
Vi
uma fotografia antiga do técnico Rubens Minelli na decisão do Brasileiro de 1975,
quando o Inter ganhou de 1 a
0 do Cruzeiro com o gol iluminado de Figueroa. Ele gesticulava na frente da
casamata do Beira-Rio, másculo e viril, a poucos instantes de se tornar campeão
nacional, perto da glória da faixa no peito. Estaria perfeito para a
posteridade se não fosse sua braguilha escancarada.
Lula
tomou posse de braguilha aberta. Obama assumiu também de braguilha aberta. Paul
McCartney cansou de cantar Yesterday com a braguilha aberta.
A
braguilha aberta é a infância masculina, sua incurável distração. Pode ser um
estadista, decidir o destino da humanidade, mas não se lembrará de levantar o zíper.
De Napoleão ao príncipe Charles, é uma incompetência do homem. Um desleixo da
heterossexualidade.
Não é
maldade, não é sem-vergonhice, é um problema de software. Homem que é homem
despreza a função do zíper. Aceita a convivência com cadarços e botões, e só. Papas
e padres usam batina de propósito, somente para não oferecer mau exemplo.
As
mulheres acreditam que seja resultado de nossa pressa. Pois não é. Se contássemos
com todo o tempo do mundo, ainda assim esqueceríamos a braguilha aberta.
Não é
que a gente foi ao banheiro, mijou e não subiu o zíper. A gente foi ao banheiro
com o zíper baixo e o manteve do mesmo jeito. Não mexemos nele desde que saímos
de casa.
Calça
é cueca. Calça tem corpo fechado para os varões. Não recebe cuidado e controle
diurnos. Botamos a calça de manhã e resolvemos o assunto até de noite – não
somos adeptos da manutenção, ato exclusivamente feminino, feito da reposição do
perfume e do retoque do cabelo e da maquiagem.
Eu
fiz minha primeira comunhão de braguilha aberta, eu me formei de braguilha
aberta. Em todas as cenas importantes de minha vida, lá está o fecho solto.
Antes
de sair de casa, minha mulher decretou um checklist: limpar as remelas dos
olhos, tirar as meias das barras da calça e fechar o zíper.
Ela
tem a esperança de que vou alcançar a excelência, ou aquilo que chama de decência.
Já penso em adotar o abrigo como meu traje oficial.
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