sexta-feira, 27 de junho de 2014

JaimeCimenti

O que a Ilíada diz sobre a guerra

A guerra que matou Aquiles - a verdadeira história da Ilíada (Bertrand Brasil, 398 páginas, R$ 70,00, tradução de Marcio de Paula S. Hack), de Caroline Alexander, doutora em clássicos pela Universidade de Colúmbia (N.Y) e especialista em estudos homéricos, antes e acima de tudo, é o livro sobre o que a Ilíada diz da guerra. Ou seja, a autora, neste grande ensaio que envolve o maior poema já escrito sobre guerra, não trata sobre os eventos descritos no grande épico.

Centenas de gerações, poetas e pensadores recontaram, discutiram e se debruçaram sobre os acontecimentos narrados no clássico universal. Caroline inova e foge das questões tradicionais. Autora de sete livros, Caroline viajou pelo mundo inteiro, viveu na Europa, na América e no Caribe. Atualmente, mora em New Hampshire.

Como se sabe, os dramáticos eventos da Guerra de Troia são lendários, mas a Ilíada de Homero é completamente voltada para algumas poucas semanas ao fim de uma guerra que já durava dez anos. O foco da história não se dá no drama, mas numa verdade mais amarga: ambos os exércitos queriam o fim da guerra.

Caroline Alexander esmiuçou a história e revela a visão do próprio Homero em relação à sua obra-prima. A narrativa ao mesmo tempo traz a autoridade da pesquisadora e a sedução de um bom romance histórico. Uma das histórias mais atemporais de nossa civilização é apresentada de modo criativo e por outro ângulo.

Um dos pontos altos do livro é a análise da personalidade de Aquiles, ao mesmo tempo um ídolo e respeitado guerreiro, e um monstro feroz. A autora descontrói a infalibilidade dele, dissertando a respeito de suas críticas à ordem social e da busca pela paz e, em paralelo, apresentando suas falhas humanas e aspectos altamente perturbadores.

Caroline traz fatos até então desconhecidos da maior parte das pessoas. Durante a obra, a escritora ressalta a questão da guerra em si, que, ao fim e ao cabo, trouxe apenas morte e miséria para os povos, sem sequer ganho territorial para qualquer um dos lados.

Ela aproxima aqueles velhos acontecimentos a conflitos atuais, como as Guerras do Iraque, Vietnã e da Somália, por exemplo. Enfim, é uma obra excepcional que fará as pessoas lerem a Ilíada de modo diverso e deixar de lado a visão da “glória” abstrata e o mito da guerra cavalheiresca e sem sangue, que sempre obscurecem as maquinações cruéis que praticamente todas as guerras têm.


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