JaimeCimenti
O que a Ilíada diz sobre a
guerra
A
guerra que matou Aquiles - a verdadeira história da Ilíada (Bertrand Brasil,
398 páginas, R$ 70,00, tradução de Marcio de Paula S. Hack), de Caroline
Alexander, doutora em clássicos pela Universidade de Colúmbia (N.Y) e
especialista em estudos homéricos, antes e acima de tudo, é o livro sobre o que
a Ilíada diz da guerra. Ou seja, a autora, neste grande ensaio que envolve o
maior poema já escrito sobre guerra, não trata sobre os eventos descritos no
grande épico.
Centenas
de gerações, poetas e pensadores recontaram, discutiram e se debruçaram sobre
os acontecimentos narrados no clássico universal. Caroline inova e foge das
questões tradicionais. Autora de sete livros, Caroline viajou pelo mundo
inteiro, viveu na Europa, na América e no Caribe. Atualmente, mora em New
Hampshire.
Como
se sabe, os dramáticos eventos da Guerra de Troia são lendários, mas a Ilíada
de Homero é completamente voltada para algumas poucas semanas ao fim de uma
guerra que já durava dez anos. O foco da história não se dá no drama, mas numa
verdade mais amarga: ambos os exércitos queriam o fim da guerra.
Caroline
Alexander esmiuçou a história e revela a visão do próprio Homero em relação à
sua obra-prima. A narrativa ao mesmo tempo traz a autoridade da pesquisadora e
a sedução de um bom romance histórico. Uma das histórias mais atemporais de
nossa civilização é apresentada de modo criativo e por outro ângulo.
Um
dos pontos altos do livro é a análise da personalidade de Aquiles, ao mesmo
tempo um ídolo e respeitado guerreiro, e um monstro feroz. A autora descontrói
a infalibilidade dele, dissertando a respeito de suas críticas à ordem social e
da busca pela paz e, em paralelo, apresentando suas falhas humanas e aspectos
altamente perturbadores.
Caroline
traz fatos até então desconhecidos da maior parte das pessoas. Durante a obra,
a escritora ressalta a questão da guerra em si, que, ao fim e ao cabo, trouxe
apenas morte e miséria para os povos, sem sequer ganho territorial para
qualquer um dos lados.
Ela
aproxima aqueles velhos acontecimentos a conflitos atuais, como as Guerras do
Iraque, Vietnã e da Somália, por exemplo. Enfim, é uma obra excepcional que
fará as pessoas lerem a Ilíada de modo diverso e deixar de lado a visão da
“glória” abstrata e o mito da guerra cavalheiresca e sem sangue, que sempre
obscurecem as maquinações cruéis que praticamente todas as guerras têm.
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