quarta-feira, 18 de junho de 2014


18 de junho de 2014 | N° 17832
DAVID COIMBRA

COMO A TV MEXICANA VIU A PARTIDA

– Esse é Francisco Guillermo Ochoa! Esse é Francisco Guillermo Ochoa! – gritava o narrador da TV, Pablo Ramírez, referindo-se ao goleiro do México, acrescentando em seguida: – E a melhor notícia para ele é que ele me agrada como cunhado!

Esse Ramírez é um mexicano narrador da Univision, uma das redes de TV americanas que têm a programação inteiramente transmitida em espanhol, muito assistida pela comunidade hispânica dos EUA, mas também com forte penetração no México e em Porto Rico.

O ponto de vista deles é dos mexicanos, e por isso escolhi a Univision para assistir ao jogo de ontem, disputado em Fortaleza. Desde o começo da semana, os apresentadores da rede anunciavam a transmissão da “histórica” partida contra o Brasil, “a mais esperada no México e nos Estados Unidos nesta Copa do Mundo”. Os companheiros de cobertura de Ramírez eram os também mexicanos Enrique Bermudez e Jesus Bracamontes, o “Professor Bracamontes”, nome que me pareceu muito adequado para um personagem do Chávez. Simpatizei de imediato com o Professor Bracamontes.

Antes da partida começar, todos já estavam excitados. Os repórteres da Univision haviam consultado uma tartaruga e uma galinha videntes. Ambas foram soltas em frente a bandeiras do Brasil e do México. A que elas escolhessem seria do vencedor do jogo. A tartaruga escolheu o México, e a galinha escolheu o Brasil. Ambas erraram, portanto. Ou ambas acertaram, sei lá.

Quando a chamada “BraÇuca” começou a rolar, os três jornalistas mexicanos mal se continham de ansiedade. Passaram o primeiro tempo reclamando do juiz.

– Esse Neymar estudou na escola de arte dramática aqui do Brasil – ironizou o Professor Bracamontes, quando o atacante brasileiro se jogou, pretextando falta na intermediária.

– É o jogo bonito dos brasileiros! – admirou-se Bermudez, depois de algumas gingas de Neymar, mas o Professor Bracamontes ajuntou, do alto de sua sabedoria de, afinal, professor:

– Mas animicamente o México é superior.

Aos 25, Ochoa defendeu uma cabeçada de Neymar, e Bracamontes disse, poeticamente, que o goleiro “roubou a glória” do brasileiro.

Aos 42, Daniel Alves caiu e os três proclamaram:

– Não foi falta! Não foi falta!

Aos 43, Ochoa defendeu outra, e Bracamontes suspirou:

– Grandioso!

No primeiro minuto do segundo tempo, Thiago Silva fez falta dura em Rafa Márquez e Ramírez perguntou:

– Cadê o cartão? Hein? Cadê o cartão amarelo?

O México passou a envolver o Brasil, e os três narradores mexicanos se entusiasmaram.

– O México é que propõe o jogo! O México é que controla! – concluiu Bermudez, aos 9 minutos.

– Os brasileiros somos nós! – definiu Ramírez, aos 20.

– Não falo muito português, mas entendi o que Scolari disse e não posso repetir – brincou o Professor Bracamontes, quando Felipão xingou algum jogador, ou o juiz, ou o mundo, da área técnica.

Aos 25 minutos, Ramírez declarou:

– Esses foram os melhores 25 minutos da seleção mexicana sob o comando de Herrera!

Aos 30, o Brasil tentava retomar o domínio do jogo e Ramírez incentivava os jogadores da sua seleção:

– Vamos, muchachos! Vamos, muchachos!

E no fim, ante nova defesa de Ochoa, o narrador berrou, como se fosse ele próprio o goleiro:

– Essa é a minha área! Esse é o meu território!

O jogo terminou com os três jornalistas se congratulando.

– Foi mais do que merecido – sintetizou o Professor Bracamontes, e os outros concordaram:

– Foi! Foi!


O Professor Bracamontes sabe muito.

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