sábado, 4 de janeiro de 2014


05 de janeiro de 2014 | N° 17664
PAULO SANT’ANA | MOISÉS MENDES (INTERINO)

Gato ou cachorro?

A vida e suas escolhas. Você acha que uma das grandes decisões da humanidade é esta que deve tomar agora, no vestibular, por exemplo, entre Engenharia e Medicina.

Outra escolha: você tem que optar entre pegar logo aquela bolsa e ir para Paris, ou ficar por aqui mesmo, porque a Sorbonne já não tem tanto charme e a Bruna pode arranjar outro. Imagine: você vai estudar o fim da pós-modernidade em Paris, volta insuportável e ainda perde a Bruna.

Ou fica aqui, não evolui profissionalmente nem como pessoa e perde a Bruna de qualquer jeito. Ou esquece a Bruna e se inscreve como candidato a colonizar Marte, com passagem só de ida.

No fim, as grandes decisões mesmo são as cotidianas, que podem mudar muito mais a vida de alguém do que dois anos na Sorbonne. Uma decisão grave, que o mundo ocidental toma diariamente, é esta: gato ou cachorro?

A família chega à pet, decidida a levar um cachorro, mas acaba levando um gato. É a grande dúvida do começo do século. As estatísticas ampliaram o dilema. Dizem que, quanto mais desenvolvido o país, mais tem gato.

Há mais gatos na Alemanha, nos Estados Unidos, na França. Tem mais cachorro na Colômbia, no Brasil, na China. Quando o mundo todo for rico, inclusive a Coreia do Norte, teremos bilhões de gatos e meia dúzia de linguicinhas. Uma das vantagens é que terminarão com os pitbulls.

Metade dos prêmios Nobel de Literatura aparecem em fotos com gatos no colo. Gatos conferem mistério ao dono. Há uma foto em que Jorge Luis Borges (que não ganhou o Nobel) aparece sentado, e Beppo, seu gato, está estirado no chão ao lado da poltrona. Borges já estava cego quando aquela foto foi feita. E ele olha para Beppo.

Gatos são femininos, cachorros são masculinos. Mas os gatos olham uma mão e não conseguem ver que a mão está ligada a um braço. Cachorros são holísticos: enxergam os dedos, a mão, o braço, o dono.

Cachorros, com certeza, sorriem. Gatos são impassíveis, mas intuitivos. Dizem que os gatos previram, por agitação noturna, a crise de 2008 que quebrou o Lehmann Brothers e as bolsas. Um cachorro, menos apegado a bens materiais, não entende nada de capitalismo.

Mas, enfim, questões práticas dividem e unem gateiros e cachorreiros. Ouvi colegas. Clóvis Malta gosta da ideia de que um cão e um gato possam compartilhar o mesmo espaço e ser presença importante um para o outro. Suzete Braun diz que gato a faz pensar em alergia. E gatos sobem nas mesas, vasculham panelas, quebram bibelôs. Gatos miam por nada. Mas Henrique Erni Gräwer gosta da autonomia dos gatos. E, na comparação, relembra um trauma da infância: cachorro morde.

Gatos são metidos e se chamam Lucky, Sary, Harumi, Nikita, Zhara, Dimmy, Dorothy, Miuki, Judy. Cachorros são Bola, Lobo, Batata, Xica, Duque, Princesa, Pitoco, Tarzan. Cachorro abana o rabo quando está alegre; o gato, quando está irritado.


Eu prefiro cachorro. Desculpem, mas estou falando disso tudo aqui porque não tenho Facebook.

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