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domingo, 5 de junho de 2011
ELIANE CANTANHÊDE
Vão-se os dedos, ficam os anéis
BRASÍLIA - Não faz o menor sentido Antonio Palocci, chefe da Casa Civil pelo menos até o fechamento desta edição, demorar três semanas para dizer o que disse aos brasileiros em entrevistas à Folha e à Rede Globo: que a Projeto, sua empresa de um empregado só, é legal e declarou seus ganhos à Receita.
Isso ele poderia ter dito no primeiro dia depois que a Folha publicou a reportagem sobre a multiplicação do patrimônio dele por 20, incluindo um apartamento de R$ 6,6 milhões que ele pagou praticamente "cash". Ou quando a mesma Folha informou que o faturamento da empresa fora de R$ 20 milhões no ano eleitoral. Ou, ainda, quando acrescentou que, ao receber metade disso, já era chefe da transição e virtual primeiro-ministro.
O principal continua soterrado por interrogações. Quem pagou? Por que pagou? Que consultoria mágica era essa? O resto dos recursos foi aplicado, doado ou está debaixo do colchão? Ou seja: de onde veio e para onde foi o dinheiro?
Isso tudo sem falar que apartamentos, histórias mal contadas e dinheiros estranhos continuam se amontoando com a quebra do sigilo do caseiro Francenildo, que relatou a presença de Palocci numa casa esquisita onde rolavam malas de dinheiro e uma gente heterodoxa de Ribeirão Preto.
Como Palocci está no topo da pirâmide do governo, ao desabar deve arrastar Luiz Sérgio, das Relações Institucionais, e toda a coordenação política, facilitando uma rearrumação no Planalto que pode se espalhar pelo Congresso. Dilma tem uma crise, mas também a chance de um freio de arrumação.
Quanto a Palocci, não tem do que reclamar. Foi abandonado pelo PT, pelo governo e pela própria Dilma, mas manteve a fidelidade à clientela e está livre para simplesmente voltar à Projeto e às suas "consultorias". Bom negócio.
No caso dele, como eu disse ontem na Rádio Folha, vão-se os dedos, ficam os anéis. E que anéis!
elianec@uol.com.br
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