sábado, 18 de junho de 2011



18 de junho de 2011 | N° 16733
NILSON SOUZA


O brinquedo do Papai Noel

Domingo, Dia dos Namorados, aquele friozinho energizante do nosso pré-inverno: encontro Papai e Mamãe Noel no caminho do pôr do sol. Não estou fantasiando, eles existem mesmo. São meus vizinhos. O homem de longas barbas brancas chama-se Laércio. No dia a dia, é o pacato avô da Mauana, amiguinha da minha afilhada. Nos finais de ano, atua como Papai Noel num movimentado shopping da Capital. Mas, mesmo fora da temporada, não desencarna totalmente de seu personagem.

Dia desses, escrevi um texto mais poético e recebi um surpreendente telefonema já nas primeiras horas da manhã. Do outro lado, uma voz de trovão me advertiu:

– Serei rápido porque estou falando do Polo Norte...

Claro que pensei tratar-se de um trote. Mas não. O homem me cumprimentou pela crônica, brincou com a minha surpresa e só então identificou-se:

– Aqui é o Papai Noel, teu vizinho.

Passei o dia alegre com aquele presente inesperado do Bom Velhinho. Um elogio matinal levanta qualquer astral.

Pois bem, mas no domingo passado era ele quem parecia feliz. De longe percebi que carregava um objeto pendurado no pescoço. Era um binóculo. Ao aproximar-se, levou o brinquedinho aos olhos e novamente brincou comigo:

– Não chegue tão perto...

Foi a primeira vez que vi Papai Noel curtindo o seu próprio brinquedo, ele, que passa os dezembros distribuindo pirulitos e histórias para a criançada. Não sei aonde ia com aquele binóculo pendurado no peito. Talvez fosse observar seus duendes, que, segundo a lenda, passam o ano confeccionando carrinhos e bonecas para a garotada. Antes, recolhiam também as cartinhas com pedidos. Agora certamente se valem da internet para se comunicar com o público infantil.

Voltando à realidade, acho que Mamãe Noel nem percebeu a troca de sorrisos entre os dois vizinhos barbudos. Estava entretida falando ao celular – possivelmente também um presente daquele Dia dos Namorados cheio de fantasia.

Pude observar, porém, que falava sem pressa, embora aquele domingo frio e a cena inusitada do casal mitológico lembrassem mesmo o Polo Norte.

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