quarta-feira, 22 de junho de 2011



22 de junho de 2011 | N° 16737
PAULO SANT’ANA


Obesidade mórbida

Por onde ando, vejo e ouço falar em obesidade mórbida.

Imagino que obesidade mórbida seja comer demais, compulsivamente.

Sei o que seja então obesidade mórbida porque sofro de tabagismo mórbido.

Ou seja, a obesidade mórbida estará então ligada ao prazer. Uma pessoa tem tanto prazer em comer, que, por mais que engorde, continua a ser escrava do prazer.

Igualzinho ao tabagismo.

Por sinal, quantas e quantas doenças estão ligadas diretamente ao prazer: o álcool, por exemplo, é uma delas. O sujeito está arrebentando seu fígado com cirrose e prossegue bebendo.

E por aí se vão as pessoas que adquirem doenças somente por não se conterem em seus prazeres.

Eu tenho um familiar que acho que posso agora chamá-lo de obeso mórbido. Há anos advirto-o de que o principal fator de sua obesidade é que ele toma dois litros de Coca-Cola normal por dia.

Já disse a ele que, se trocar a Coca-Cola normal pela Coca-Cola Zero, deixará de engordar.

E o que é mais impressionante: cansei de explicar a ele que o seu prazer será o mesmo, assim que se acostumar com a Coca-Cola Zero, terá o mesmo prazer que goza com a Coca-Cola normal e não engordará.

Quisera eu ter um cigarro zero para fumar, um cigarro que não me provocasse câncer. Mas para mim não bolaram essa invenção mágica.

Somos, portanto, escravos dos refrigerantes, escravos das massas, dos doces e dos pães, escravos dos molhos, escravos do álcool, escravos do cigarro, escravos dos nossos prazeres.

Interessante isso, é a vida nos cobrando por termos prazeres.

Parece que quanto mais usufruirmos de nossos prazeres, mais seremos punidos por isso.

Tanto que, quando olho para um pessoa magra, logo penso: “Essa pessoa é infeliz, é uma pessoa que não tem prazeres”.

Mas quando olho para um gordo, sentencio: “Esse aí é uma pessoa culpada”.

Traz no corpo a marca da maldição de ser serviçal de seu prazer.

Evidentemente que existem as exceções: o meu amigo Fernando Ernesto Corrêa come como um abade, come sete pratos de mocotó e é magro como um caniço.

O meu colega Lauro Quadros come a vaca e sai correndo atrás do terneiro e é magro como se fosse um faquir.

E devem existir exemplos de gordos que não comem nada. Será que existem?

O gordo que não come nada, este, sim, é que o legítimo paciente de obesidade mórbida.

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